"Deixem os mortos em paz"
O título deste breve comentário é, literalmente, a frase que ouvi de um familiar de uma das vítimas do desastre aéreo com o avião da Voepass, que partiu de Cascavel rumo a Guarulhos e caiu em Vinhedo, antes de chegar ao seu destino, matando todos os seus 62 ocupantes.
Disse-me esse familiar de Cascavel, morada de um terço das vítimas da tragédia do dia 9 de agosto passado, que o luto ainda está dolorido demais e, portanto, é inadmissível que esse trágico fato sirva de roteiro para o debate envolvendo as eleições de outubro próximo.
Discordei inicialmente por entender que esse é o momento de se buscar os verdadeiros responsáveis por aquela tragédia, mas cedi quando me fez a seguinte pergunta: "Como é que o caso teve origem numa denúncia anônima e, ainda por cima, foi ‘estourar’ num veículo lá de Brasília, não aqui de Cascavel?" Referia-se ele ao Congresso em Foco, respeitadíssimo site ligado ao UOL, mas que se dedica quase exclusivamente a acompanhar as coisas do Congresso Nacional no principal centro de debate político do País.
A denúncia em questão, feita de forma anônima, indica que a Passaredo Transportes Aéreos, antigo nome da Voepass, teria operado no Aeroporto de Cascavel sem um contrato administrativo entre 31 de março e 18 de junho de 2024, o que levou a Transitar a determinar a abertura imediata de processo administrativo para, mesmo ainda sem receber qualquer questionamento do Ministério Público ou do Poder Judiciário, confirmar se de fato houve essa irregularidade e, em caso positivo, apurar as responsabilidades.
Mas não precisa ser especialista em aviação para entender que, ainda que se confirme o suposto atraso na formalização de tal contrato, isso não pode nem deve ser considerado causa do trágico acidente, que já está sendo investigado com os critérios aeronáuticos e conta, desde o princípio das apurações, com o acompanhamento de uma Comissão Externa criada com esse fim pela Câmara Federal tendo como relator o deputado cascavelense Nelsinho Padovani e que, providencialmente, já assegurou que o tema será tratado após as eleições, até para não ter qualquer conotação política. (Foto: Reprodução)