A Argentina de Javier
J. J. Duran
Um dos grandes ensinamentos do mais recente século é que "as ideologias dogmáticas e as paixões extremistas, além das posições, geram o extremismo autoritário e fratricida".
Pode parecer paradoxal, mas o polo oposto a este método de fazer política com seus teóricos envolvidos nos vagos discursos de ódio não é a extrema esquerda, mas sim o chamado Centrão com suas frenéticas chamadas pela criação de um cenário no qual rotulam os divergentes de seus ideais como "inimigos".
Na vizinha Argentina, os velhos políticos conservadores aliados ao liberalismo de etiqueta não apoiam o combativo e histriônico presidente Javier Milei, único político que se atreveu a enfrentar uma reforma política e econômica de todo o sistema peronista, no qual as principais medidas eram ditadas pelos sindicatos.
Com sua política de livre mercado e deixando de lado os recintos parlamentares para elaborar sua reforma, Milei colocou em prática a velha fórmula de triturar impiedosamente seus adversários para logo depois, num aparatoso e bem estudado movimento, abraçar seus potenciais inimigos.
E tudo leva a crer que em outras latitudes da indo-América também será necessário promover uma reviravolta econômica do sistema para equilibrar as contas públicas, enquanto os grandes aplicadores internacionais seguem observando atentamente o cenário, porém sem expor seus capitais a risco.
A Argentina saltou de um extremo ao outro na sua política laboral, dando fim ao poder dos sindicatos peronistas, suas greves e seus piquetes nas ruas, sob o olhar atento da elite econômica, que segue na expectativa de conhecer os efeitos da nova política.
Mas é importante lembrar que a Argentina de hoje tem instituições frágeis e só o tempo dirá se essa nova política dará certo, pois a violência discursiva delirante de Milei não passa disso.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná