Não legitimemos o cinismo!
J. J. Duran
Existe uma idade na qual a reflexão sobre tudo que se fez, e ainda se faz, é imperativa. É a chamada reflexão serena, em que cada mortal faz um repasse do seu passado.
Hoje, com evidente nostalgia, vemos que na indo-América o vocábulo frustração ocupa lugar central nas lembranças.
Existe uma sociedade colocada de joelhos, frustrada perante o quadro das inverdades denunciadas por aqueles que, em algum momento da história, se atreveram a combater o ódio e o revanchismo primitivista, falar a verdade e a trabalhar em benefício de todos e não só de si próprios.
Liquidou-se aquele debate no qual a inteligência era parte vital dos homens públicos e a verdade era colocada em defesa da democracia, levando à substituição do vocábulo adversário pelo vocábulo inimigo.
Também se trocou a honestidade política pela moeda corrente, numa atitude cínica daqueles que antes se diziam defensores da liberdade coletiva.
Têm culpa por essa imersão de valores morais todos aqueles que, levados pela romântica dissidência juvenil, falavam nos claustros universitários sobre a liberdade pisoteada impunemente para mutilar a força os anseios juvenis.
A luta fratricida, armada e sangrenta foi um grande fracasso e todos do meu tempo de juventude fomos culpados pelo sangue derramado.
Por isso, não podemos pedir aos que levantaram bandeiras redentoras, de igualdade social, que esqueçam as palmatórias que os transformaram em escravos do horror ao acreditarem nas promessas redentoras de justiça social.
Neste momento em que o Brasil se aproxima de mais uma eleição, sugiro a todos os candidatos que se esforcem para não legitimar o cinismo, não fazer o eleitor acreditar em promessas irreais.
Ao invés disso, que se esforcem para, uma vez eleitos, trabalhar junto com a população em geral e em benefício dela, sem distinção de bandeiras ideológicas.
Que simplesmente cumpram seu papel como homens públicos para devolver a fé perdida no sistema democrático. Que não rasguem as vestes, pois o futuro é hoje e "todo poder emana do povo". (Foto: Divulgação CNJ)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná