"Vocês serão como deuses"
J. J. Duran
A hora que vive a humanidade é de descrença, confusão, receios e incertezas sobre o futuro próximo. A desesperança ocupa o coração de muitos frente às guerras primitivistas, uma espécie de novo holocausto.
Para citar só um de vários exemplos: as frias estatísticas sobre crianças e idosos mortos na chamada Faixa de Gaza, que segundo dados recentes somam mais de 35 mil, são um indicativo triste do fim de uma civilização que foi morrendo gradualmente ao longo dos ciclos de sua existência.
É a chamada hora 25, onde não há segmento da organização sociopolítica que não apresente os sintomas inquietantes da perda de credibilidade e desengano no coração daqueles que, crendo no discurso, alçaram determinados governantes ao poder.
Só corruptos medíocres e os politicamente retardados acreditam que um novo ciclo eleitoral representará o começo de um novo tempo, onde o prometido será cumprido e todo ato governamental será reflexo da inteligência colocada a serviço do povo.
Vivemos no caldeirão da polarização política e também, ainda que negada, da polarização cultural e econômica.
Outrora cheio de esplendor republicano, o Parlamento há muito recruta figuras ambíguas e que navegam entre a nulidade e o desejo de enriquecer, com notória incapacidade cultural e política para representar o eleitorado que as elegeram como última esperança.
A polarização política numa sociedade é a porta de entrada para a radicalização social, que nada tem de sadio, e uma mostra clara da decadência proposital do segmento político tradicional.
Quando exilado em Madrid, na Espanha, assisti a uma peça de teatro escrita por Gustave Thibon intitulada "Vocês serão como deuses", que mostra o povo se debatendo entre crises sistêmicas geradas pelo poder que elegeu. É, infelizmente, um retrato fiel do tempo atual. (Foto: Marcelo Camargo/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná