Os donos do poder
J. J. Duran
Os anos de arbítrio e fratricídio que viveu grande parte da indo-América na metade do século passado, sobretudo na década de 1970, desfiguraram e mutilaram as estruturas de convivência da sociedade.
A consequência foi a desfiguração ética, política e social, que substituiu o diálogo pelo confronto e o uso da razão pela força.
Os múltiplos e cotidianos problemas de irracionalidade hoje colocados na vitrine dos meios de comunicação são uma clara manifestação do equivocado conceito do uso da força.
A força é precária pela sua própria natureza e só dá ilusão de um poder, que tem data de vencimento.
Muitos governantes se agarraram ao poder como ostras ao rochedo, fazendo dele um fim, e não um meio e do obscurantismo de seus ideais ideológicos uma ferramenta de imposição da sua verdade, absoluta e indiscutível.
Nesse raciocínio me vem à memória a notável conferência do ministro Seabra Fagundes (foto) na Escola Superior de Guerra, na qual, a propósito desse comportamento absolutista, observou: "O fanatismo e a petulância dos medíocres nascem na certeza de que sua verdade é indiscutível".
Nos regimes democráticos, o que caracteriza e enobrece é a capacidade de tolerância e compreensão de todos os atos praticados por aqueles que foram eleitos.
Mas atualmente são "donas" do poder transitório figuras tragicômicas, que nos seus desvarios acreditam ter a propriedade indiscutível da verdade.
A esse respeito, certa feita o filósofo Julian Maria declarou em uma conferência na Catalunha: "O poder há de ser sempre exercido com prudência e sabedoria, respeitando posições divergentes, desde que assumidas com honra e desinteresse, como sinais da grandeza moral daquele que governa".
E para fichar as citações de grandes luminares da nossa história, João Neves de Fontoura disse a esse respeito: "Tomara os homens, fora ou dentro do poder, sejam sempre os mesmos".
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário de Cascavel e do Paraná