A impressionante tragédia do agro do Rio Grande do Sul
Dilceu Sperafico
As perdas e estragos da tragédia climática que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, com a maior precipitação pluviométrica de toda a história de registros iniciados em 1910, de mais de 700mm, prosseguem surpreendendo a população e especialistas pela sua extensão e efeitos inusitados. Onde pastos nativos foram alagados com rebanhos de bovinos, equinos e ovinos, criadores perderam grande número de animais mortos por afogamento. Nas lavouras destruídas e pastagens danificadas, mesmo não sendo inundadas, rebanhos de animais sobreviventes das enchentes estão sendo atacados por carrapatos e ratos, pois com o excesso de umidade nas áreas da agropecuária, os surtos de pragas estão ocorrendo até mesmo em celeiros, galpões, armazéns, pocilgas e aviários.
Os produtores rurais do Rio Grande do Sul retomaram a colheita das lavouras de soja, milho e arroz, após o nível de rios locais baixarem e permitirem acesso às propriedades rurais, mas o cenário encontrado é de destruição, tanto nas áreas destinadas à agricultura como à pecuária. Há surtos de pragas, fungos, plantas destruídas e animais sofrendo com doenças e ataques de ratos e carrapatos. De acordo com a Empresa de Assistência Técnica de Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS),
que acompanha a retomada dos trabalhos, são muito desanimadoras as condições encontradas pelos produtores rurais ao retornarem às suas propriedades.
A colheita da soja foi retomada, mas o excesso de umidade no solo está dificultando o trabalho, mesmo em regiões que não sofreram tanto com as cheias dos rios. Conforme a Emater/RS, a soja teve 22% de área plantada que não foi colhida, afetada pelas enchentes com perdas de 15% a 25% do volume inicial previsto de cinco milhões de toneladas. As fortes chuvas também impactaram a safra de milho, com perda de cerca de 10% do que estava pronto para colheita. As plantações de arroz somaram 900 mil hectares e foram as mais impactadas pelas enchentes, com cerca de 50% da produção a ser colhida engolida pela catástrofe ambiental. Em números, entre 600 mil e 700 mil toneladas do alimento foram perdidas, com prejuízo estimado em 68 milhões de reais. As lavouras de arroz submersas estão sendo abandonadas. O feijão foi o grão menos impactado.
Conforme especialistas, o que se vê em grande parte das lavouras de soja que ainda precisavam ser colhidas são perdas consideráveis por grãos germinados, mofados e debulha natural. Essas condições elevam ainda mais os custos para a colheita da soja restante. As máquinas têm dificuldade de locomoção nas lavouras. A umidade dos grãos nas unidades de secagem, de acordo com os técnicos, está em torno de 30%. Em uma situação normal, esse índice gira em torno de 14%. Grãos colhidos em diversas regiões nem sempre conseguem receber secagem em unidades próximas, em decorrência da alta demanda de tempo e lenha para a combustão.
As lavouras de milho, colhidas após chuvas apresentaram senescência, que é o processo degenerativo das plantas, presença de fungos com alto risco de desenvolvimento de micotoxinas e germinação das espigas. As plantações destinadas à silagem para alimentação animal, também voltaram a ser colhidas, principalmente nas regiões ao Sul do Estado, mas com as folhas prejudicadas. Em algumas regiões parte dos silos foi perdida por alagamentos e há grande dificuldade para fornecer alimentação aos rebanhos, especialmente o de gado leiteiro. (Foto: Divulgação Sociedade Rural Dom Pedrito)
Dilceu Sperafico é deputado federal e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Paraná