Um patriarca sem outono
J. J. Duran
Vou deixar de lado minha linha sabática para fazer referência a citações de homens que, por terem entrado no bronze da história, merecem o reconhecimento eterno de seus concidadãos.
João Pinheiro disse que "a política há de ser sempre a eterna contenda dos homens e dos partidos com seus dias de vitórias e revezes, nos quais há lugar para todas as dedicações e todos os infortúnios. Nela [a política] nenhuma posição é ruim, desde que assumida com honra e mantida com desinteresse".
Em oração lapidar, o mestre Afonso Arinos de Mello Franco (foto), que marcou sua presença no Congresso Nacional brasileiro com notável participação de sua capacidade e ampla e profunda ilustração, acentuou que "a credibilidade e a confiança são as fontes da esperança".
Na Roma antiga havia um costume sadio, de que quem aspirava uma alta magistratura "devia apresentar-se frente ao povo no dia da eleição com vestes brancas, verdadeiramente cândidas, para que todos pudessem ver as cicatrizes das feridas herdades nos combates pela glória romana".
Essas reflexões se impõem em tempos de campanha política, pois em sua atual fase evolutiva o Brasil não comporta lutas partidárias acirradas.
Há que se encontrar o caminho do entendimento não em torno dos pequenos problemas das aldeias interioranas, mas dos grandes problemas da desigualdade social que nossa ordem econômico-social vem mantendo incólumes, apesar da passagem pelo poder de governos ditos progressistas ou liberais.
Há que se debater os problemas a fundo, com elevada sabedoria e patriotismo, deixando a autossuficiência de lado. Há que se expor esses problemas ao sol da praça para que os velhos e costumeiros erros do poder sejam apontados e ao menos minimizados.
Não há por que acirrar discussões ou renunciar a princípios ideológicos e partidários, mas sim encontrar o terreno limpo e nobre no qual todas as tendências políticas encontrem um espaço para participar sem os preconceitos das ululantes vozes dos medíocres saudosos dos tempos do obscurantismo democrático.
Os longos e difíceis anos que passei como ator do cenário político platino me levam a concluir que "me parece cada vez mais evidente que o caminho é o da composição e nunca o da confrontação primitivista", pois o patriarca político aldeano já não tem outono. (Foto: Célio Azevedo/Agência Senado)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná