Democracia e pobreza
J. J. Duran
Passadas várias décadas da volta da democracia ao cenário republicano brasileiro, é prudente indagar: o que opinam da democracia os setores mais preteridos da sociedade, principalmente os 13 milhões de brasileiros e brasileiras desempregados que figuram na impudiga estatística do governo reformador?
É difícil encontrar uma resposta num tempo em que a fome é mais forte que a razão e não se vislumbra um futuro diferente, pois para os pobres o amanhã por vezes não passa de utopia. Nesse período se acumularam planos econômicos e promessas de campanha que só trouxeram mais sofrimento para o simples homem da rua.
Em meu longo peregrinar pelos caminhos indoamericanos, ouvi muitas vezes que "a democracia é um roteiro vazio de conteúdo para os pobres e a serviço dos mais ricos". E sempre escrevi que algo muito errado devem ter feito as gerações da primeira metade do século XX para que quase todos os que se tornaram da elite política ou empresarial logo após o custoso e sangrento ressurgimento democrático nos tenham legado tamanho acúmulo de desigualdades e um agônico estado de decomposição moral. Essa é a grande dívida sociopolítica e moral que esses pretensos líderes nos deixaram em sua passagem pelo poder.
Todos que estamos no time dos nonagenários e que temos muitas feridas materiais e morais por termos ousado enfrentar um sistema repressivo e sem diálogo pensamos na serenidade que facilita a distância terrenal com esse tempo, matriz diabólica que concebeu o fatídico slogan "vamos combater a pobreza".
Sob essa utópica expressão, sucessivos governantes lançaram mão de programas que em nada melhoraram o cenário, muito pelo contrário, pois só fomentaram o culto ao "capital versus trabalho" e não ao "capital mais trabalho".
Muitos são nossos irmãos que não sabem o que é se alimentar dois dias seguidos, como muitos também são os que não têm uma moradia para chamar de sua, pois foram excluídos silenciosamente pela estupidez ávida de personagens políticos que hoje reaparecem para pedir os seus votos.
Não votar neles é a resposta adequada aos de biografia rabiscada que tentam anestesiar a memória dos que hoje mendigam um pedaço de pão.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras