Jovem índia luta para virar médica e cuidar de seu povo
Índio também é gente e, como tal, a ele devem ser estendidos todos os direitos concedidos às demais raças para que não tenham que ficar mendigando e até saqueando cargas para sobreviver, como acontece com frequência na região de Nova Laranjeiras. Mas no Paraná não é equivocado dizer que isso já é feito no âmbito do ensino superior, onde acaba de ser anunciada a lista de 306 candidatos aprovados no 23º Vestibular dos Povos Indígenas.
E 36 dessas vagas são ofertadas pela Unioeste, onde a jovem kaingang Ádana Garigsânh Bernardo, de 21 anos e que há dois já está na universidade, foi escolhida como personagem para lembrar a passagem do Dia dos Povos Indígenas, celebrado justamente neste 19 de abril.
"Eu quero ser médica, médica para minha aldeia, médica para meu povo", disse Ádana, por irônico que possa parecer nascida e criada na Terra Indígena Rio das Cobras, em Nova Laranjeiras, e que está no segundo ano do curso de Medicina no campus de Cascavel. "Quando eu era pequena lá na aldeia não imaginava estar aqui. Nem consigo expressar minha emoção com essa virada", ressalta.
"Eu nasci e sempre morei na aldeia. Estudar para mim foi um meio de libertação. Quando vi meu nome na lista de aprovados do vestibular, explodi de felicidade. Agora vou me dedicar para conseguir terminar o curso e atuar dentro da minha aldeia, atendendo minha gente, meu povo. Quero ser médica para cuidar das suas dificuldades", ressaltou Ádana.
Ela observa que os indígenas ainda enfrentam grandes dificuldades, inclusive de preconceito e que mudar isso é uma meta de vida. "Acredito que isso é uma missão", complementa, ainda no sotaque da língua nativa.
Atualmente a Unioeste conta com 35 alunos indígenas matriculados em Cascavel, Francisco Beltrão, Foz do Iguaçu e Marechal Cândido Rondon. Doze indígenas já se formaram na universidade, inclusive a médica cirurgiã Myrian Krexy Veloso, também de Rio das Cobras, que foi personagem de uma matéria do programa Fantástico em 2019. Os acadêmicos indígenas matriculados e com frequência regular recebem atualmente auxílio permanência mensal no valor de R$ 1.125,00.
POPULAÇÃO INDÍGENA
O Paraná tem 30.460 indígenas autodeclarados, de acordo os dados do Censo 202 do IBGE. Em comparação com os dados do Censo anterior, de 2010, o Estado registrou um aumento de 14% na população indígena, que era de 26.559. O número representa 0,27% da população total do Paraná, que é de 11.443.208 habitantes. Em 2010, a participação da comunidade indígena na população total do Estado era um pouco menor, de 0,25%.
Dos 399 municípios paranaenses, 178 apresentaram aumento das suas populações indígenas, segundo o Censo de 2022. São 345 cidades com registro de ao menos um indígena autodeclarado - 86% do total.
O Paraná tem a 14º maior população indígena do País e a segunda maior a região Sul, atrás de Rio Grande do Sul, com 36.096 pessoas (evolução de 6,1% em relação aos 34.001 de 2010), e à frente de Santa Catarina, que tem 21.541 indígenas (aumento de 18,2% em relação aos 18.213 de 2010). (Foto: Victor Hugo Tadioto/Unioeste)