Liberdade de expressão e responsabilidade social
Luiz Claudio Romanelli
"A maioria dos maiores males que o homem infligiu ao homem veio do fato de as pessoas se sentirem bastante certas de algo que, na verdade, era falso" - Bertrand Russell
Em tempos de modernidade líquida, verdades relativas e uso de tecnologias e da inteligência artificial, eu assisti a fala do cientista político Fernando Schüler quando recebeu o troféu Liberdade de Imprensa 2024 pelo conjunto de ideias sobre liberdade de expressão que escreve na revista Veja. Por isso, decidi fazer uma reflexão sobre liberdade e responsabilidade. Vi com atenção as recentes manifestações sobre a liberdade, especialmente no contexto da proliferação da desinformação e das fake news. A atual situação, no mínimo, é assustadora ou que vivemos a expiação da barbárie.
Eu concordo plenamente com a importância de defendermos a liberdade de expressão e o debate aberto de ideias. No entanto, apresento algumas nuances da argumentação do professor e filósofo Fernando Schüler, partindo de uma perspectiva que busque conciliar a liberdade individual com a responsabilidade social. Essa aliança é premente e importante.
Neste sentido, é inegável que a liberdade é um pilar fundamental, mas não absoluto. A liberdade de expressão é um direito conquistado através de árduas lutas pela redemocratização do país e no combate à ditadura para construção do que chamamos de uma sociedade democrática. A maioria dos agentes políticos, dos anos 60 até hoje, participa desta frente que faz a diferença no debate político.
A liberdade de expressão nos permite questionar, propor alternativas, construir um futuro melhor. No entanto, é crucial reconhecer que essa liberdade não é absoluta. Ela encontra limites na garantia dos direitos do outro - olha que eu aprendi isso na quinta série. A busca pela verdade, a construção de um ambiente social saudável e o combate à desinformação são premissas, conceitos e ações compartilhadas por todos nós.
A proliferação de fake news representa uma grave ameaça à democracia e ao bem-estar social. Ela distorce a realidade, manipula a opinião pública, gera conflitos desnecessários. Combater esse problema exige um esforço conjunto de todos os setores da sociedade, sejam governos, empresas de tecnologia, de mídia, educadores e, claro, de todos os cidadãos.
Na era digital, cada um de nós se tornou um agente de comunicação. Ao compartilhar informações, seja nas redes sociais ou em conversas pelos aplicativos, temos a responsabilidade de verificar a veracidade do que repassamos. Não podemos nos eximir dos compromissos de buscar fontes confiáveis, sinalizar criticamente conteúdos e evitar a propagação de notícias falsas.
É necessário ter uma visão ampliada da realidade, eu diria até sistêmica, reconhecendo que a realidade social é complexa e multifacetada, indo além das lentes de uma única classe social. Para compreendermos os desafios do nosso tempo, e construirmos soluções, precisamos ouvir diferentes vozes e perspectivas, inclusive daqueles que vivem em realidades distintas da nossa.
O diálogo construtivo e respeitoso, e o debate de ideias, são fundamentais para o progresso social. Porém, esse debate precisa ser conduzido de forma respeitosa, com base em fatos e argumentos sólidos. Devemos evitar ataques pessoais, desqualificações e a polarização extrema que apenas geram mais divisão e impedem justamente o diálogo construtivo. É necessário buscar um equilíbrio. Um equilíbrio dinâmico.
Claro que encontrar o equilíbrio entre liberdade e responsabilidade é um desafio constante. Não existe uma fórmula mágica que funcione em todas as situações. Cabe a cada um de nós, como cidadãos conscientes e engajados, buscar esse equilíbrio de forma crítica e reflexiva. Sempre buscando o bem comum e a construção de uma sociedade mais justa e democrática.
Acredito que esse debate sobre liberdade de expressão precisa ser enriquecido por diferentes perspectivas e com o compromisso com a verdade. A liberdade individual é fundamental, reafirmo, mas não deve ser exercida sem responsabilidade. É imperativo sempre levar em consideração os impactos sociais das nossas ações. Somente assim, poderemos construir uma sociedade livre e próspera para todos. (Foto: Divulgação Alep)
Luiz Claudio Romanelli é advogado especialista em gestão urbana e deputado estadual pelo PSD do Paraná