Acabar com os pobres ou acabar com a pobreza?
J. J. Duran
Há muitos anos, na Argentina, os jornais publicaram com destaque uma frase do então presidente Carlos Menem dizendo textualmente o seguinte: "Vou acabar com os pobres".
Mais que um jogo de palavras, essa frase representou a afirmação de um objetivo humanitário.
A afirmação repercutiu sobremaneira na classe menos favorecida, mas com uma dupla indagação: o presidente se referiu a acabar com os pobres ou com a pobreza?
Na época o holocausto ainda estava recente como chaga da humanidade, mas não se falou em genocídio e sim na indiferença que o enigma causou na sociedade.
Passados longos anos desde o governo Menem, hoje repousando no altar cívico da memória da Pátria, continua a aumentar a quantidade de pobres no país vizinho.
Essa é mais uma demonstração de que os pobres não têm meios políticos autênticos que os represente, apenas intermediários hábeis em usar essa triste chaga social como ferramenta para defender seus próprios interesses.
Nesse recém-chegado 2024 existem, tanto na Argentina do presidente libertário Javier Milei, quanto no Brasil do envelhecido líder Luiz Inácio Lula da Silva, indicadores dramáticos do crescimento das desigualdades sociais.
A deterioração da antiga arquitetura familiar, a exploração das crianças e a penúria de muitos aposentados com benefícios imorais outorgados pelo Estado seguem castigando de forma impiedosa aqueles que muito deram se si para construir as Repúblicas de hoje, mas jamais foram devidamente recompensados.
Por isso tudo, e apesar de repetitivo, devo escrever uma vez mais que não é com discursos carregados de falsa caridade que vamos acabar com a pobreza e dar vida digna aos milhões de seres humanos nela inseridos. (Foto: Getty Images)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná