Dos insultos ao perdão
Os irmãos argentinos que me perdoem, mas continuam em maus lençóis, mesmo depois de mudarem como que da água para o vinho na escolha de seu novo presidente. Parece-me concretamente que fizeram a escolha "menos pior" - como, aliás, tem sido uma espécie de regra mundo afora no tempo recente em se tratando de eleições presidenciais -, mas é totalmente incerto que possam alimentar a esperança de um governo realmente transformador.
Não obstante o fato de o "pacotazo" proposto ao Congresso Nacional argentino ter sido desidratado até quase a última gota pela inconstitucionalidade de inúmeras propostas nele contidas e pela absoluta falta de diálogo com o Legislativo, peça-chave de qualquer país verdadeiramente democrático tanto quanto o Executivo e o Judiciário, agora Javier Milei virou tema da mídia internacional por sua conduta em relação ao papa Francisco.
Depois de chamar o Sumo Pontífice de "imbecil" e "representante do mal" durante a campanha eleitoral, o presidente argentino fez nesta segunda-feira (12) uma visita surpresa ao seu patrício mais ilustre, levando em sua comitiva - às custas do erário argentino, claro - a irmã Karine e os ministros Guillermo Francos, Diana Mondino e Sandra Pettovello. E depois, como que apostando na memória curta do seu eleitorado, tentou "lacrar" nas redes sociais fazendo nada menos que 19 postagens sobre o assunto em cerca de duas horas.
Menos mal que tenha levado ao papa alguns doces tradicionais argentinos em um gesto de reconciliação e, principalmente, aproveitado os cerca de 70 minutos de conversa para pedir desculpas de viva voz pelos desaforos feitos ao longo da campanha.
E como reagiu Francisco? Como papa, claro, aceitando o pedido de desculpas e comparando os ataques de Milei a "erros comuns da juventude", em que pese o fato de o novo presidente argentino já estar com 53 anos de idade. (Foto: Youtube/Vatican News)