O poder delegado
J. J. Duran
Quando, ao assumir o governo, um presidente eleito democraticamente informa ao Congresso Nacional que vai usar das prerrogativas que têm para governar sem dar relevância ao Parlamento, é como se rasgasse uma parte valiosa da Constituição. Isso foi escrito no ano de 1947, de forma direcionada ao coronel Juan Domingo Peron.
A Argentina é o país da indo-América mais atingido por golpes de Estado, e se hoje a cidadania e o Parlamento não impõem freios aos desvarios políticos-institucionais do presidente Javier Milei, abrem ampla avenida para que mais um governo transite pelas vias da ilegalidade.
Os governos militares, usurpadores da Constituição, sempre foram rigorosamente combatidos por dissidentes que não comungaram das atrocidades cometidas, e sempre contestaram essas vozes discordantes com o uso indiscriminado da violência irracional.
O recém empossado Milei não busca aliados, mas sim aumentar o fosso que tem separado a sociedade platina ao longo dos últimos 50 anos.
Como executor das diretrizes sionistas para a indo-América, ele procura acentuar a polarização e estabelecer a lei da obediência cega ao que determina.
Já deixou claro que se o Congresso não aprovar seus projetos de privatização geral, vai governar com o uso de medidas preventivas e, se necessário, convocar um plebiscito para submeter ao crivo popular seu alucinante plano de colocar fim ao que sempre foi o Estado argentino.
A democracia indireta, invocada por ele, sua poderosa irmã e seus cachorros conselheiros, prenuncia um novo tempo de cesarismo platino.
O constitucionalista Ricardo Gil Lavedra, reconhecido pela sapiência acima da média, define o projeto político de Milei como "um mamute que o Congresso deve parar pelo risco de outorgar poderes ilimitados a um político desvairado numa sociedade atormentada pelo fracasso".
Distante de Buenos Aires, opino que outra vez a História e seus heróis convocam seus filhos a lutarem a favor da liberdade e contra a insânia de um governante.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná