Uma geração decadente
J. J. Duran
O novo presidente argentino Javier Milei representa o liberalismo experimental surgido (ou ressurgido) na indo-América por meio do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro.
Na platina Buenos Aires, que durante mais de 50 anos foi desgovernada por um peronismo traidor dos sonhos do velho coronel Domingo Peron, este líder político judaico-argentino prenuncia, com suas medidas anticonstitucionais, momentos de graves comoções sociais.
As manifestações de rua foram e são parte do ritual protestante da parte mais desprotegida pelas políticas sociais dos governos peronistas ou kirchneristas.
Milei é uma manifestação local de um fenômeno global produzido pela insatisfação social canalizada pela ultra direita liberal patrimonialista.
Ele tem uma liderança indiscutível dentro de um cenário construído pela inoperância e pela ruindade da classe política local, e chegou ao poder central numa época de esgotamento de todas as propostas que não visem a transformação urgente da Argentina agropecuária em uma Argentina de livre mercado.
E como previsto, não viverá os famosos 100 dias de lua de mel com a oposição, pois a urgência não permite isso diante de um cenário de fracassos econômicos e erros de planejamento da comunicação com a sociedade.
Velhos bons analistas do cenário argentino adiantam seu prognóstico de que o discurso raivoso e insultante do novo mandatário vai recriar o ódio e ampliar ainda mais o enorme fosso que já separa o peronismo do antiperonismo, pois o novo governo mal assumiu e já começou a destruir a arqueologia centenária do Estado republicano sob o olhar atento de uma elite tridimensional formada pelas corporações midiárias, pela agropecuária e pelos interesses ocultos, porém não adormecidos, do sionismo local com forte tendência mercantilista de tudo que se refere às oxidadas riquezas naturais do país.
Como bem e sabiamente escreveu Jadir Thomas Hardy, "há que ter coragem de olhar para o pior para poder evitá-lo".
A mim, um velho e golpeado dissidente do peronismo, só resta escrever: "Não chores por mim Argentina, pois dias piores virão".
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná