O bonde da direita
J. J. Duran
Quando um ciclo político governante se encerra, deixa as cicatrizes e persiste a dúvida sobre se foi ou não digno dos votos recebidos.
A sociedade indo-americana foi duramente punida nos últimos 30 anos, quando foi tomada pelo empobrecimento e viu a Argentina transformada em cartão postal trágico dessa realidade.
Nessas três décadas os cofres públicos foram saqueados e a moral republicana pulverizada por governantes (não todos, é claro) donos de um cinismo sistêmico e apoiados por uma classe arrogante, raivosa e disseminadora do ódio.
O anarcocapitalismo reapareceu, por vezes associado a confusas e místicas mensagens evangelizadoras.
Hoje tudo parece ser utopia, com uma parcela da população tomada por uma fanática esperança e outra por uma grande dúvida sobre aquilo que poderá acontecer logo ali na frente.
No Brasil, essa esperança teve seu momento de esplendor com a chegada ao poder de Jair Bolsonaro, mas seu governo se caracterizou pela falta de um programa claro para recolocar o País nos trilhos do desenvolvimento desejado.
A militarização do governo, com a transferência de poderes especiais a generais quatro estrelas da ativa ou da reserva, formou uma espécie de "Afrika Korps" do poder democrático.
O bonde da ultra direita foi formado por ruidosas e custosas motociatas, estilo camisas negras romanas, e culminou com o condenável ataque aos Três Poderes no fatídico 8 de janeiro de 2023.
Já na vizinha Argentina, o judaico-argentino Javier Milei chegou ao poder pelo voto majoritário de uma sociedade desesperada, faminta e atormentada pela inexistência de um futuro promissor.
Mas não é nada correto comparar Bolsonaro com o demencial Milei, pois o ex-presidente brasileiro jamais tentou ter poderes ilimitados, enquanto o novo presidente argentino já mandou ao Congresso o recado de que tudo fará para governar sem a participação do Parlamento. (Foto: Reprodução Twitter Milei)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná