Vida e morte do escritor
J. J. Duran
O escritor, tal qual o jornalista, de certa forma morre ao finalizar um ano e buscar reviver na publicação de suas obras, quase sempre inconclusas, a comédia que é a própria vida.
É feito de várias porções de vida e de morte, porém procura desviar o pensamento quando escreve o vocábulo morte.
Sabem, tanto os que escrevem quanto os que leem, que é pouco agradável discorrer sobre a morte destruidora que em sua passagem temporal por este mundo procuram apenas criar e dar vida aos seus sonhos.
Como todos aqueles sonhadores de uma só vida, o escritor sabe que pode se converter em alguém débil, poderoso, humilde, soberbo, hipócrita embarcado em uma imensa arca sem horizonte nem cadeia que aprisione a sua liberdade de voar da imensidão do céu desenhado por pensamentos mais coloridos que o arco-íris.
É uma espécie de boneco com vida, com alma que sofre diante das mediocridades e perseguições impostas pelos que mandam, porém que jamais deram vida a uma lauda sequer.
Coloca-se nu, descalço, sem nada mais além de suas criações brotadas do nada para converter-se em lendas que ultrapassam os seculares tempos e são consumidas pela ignorância domesticada a serviço das nulidades.
Vive envolvido no tenso e agonizante ambiente dos dramas do quotidiano, aqueles que muitos olham com indiferença, para descrever as contradições que deixam feridas que não cicatrizam na alma dos que pensam e escrevem o que pensam.
O escritor é alguém livre, um pássaro solitário que sulca os céus na busca do azul límpido sem engodos, mas que, como os monges trapenses, morre a cada escrita.
Fruto da beleza da concepção humana, ela nasce e morre diante dos odiosos sistemas opressores e da crítica desonesta e sem grandeza, frutos de um inacabado processo dialético que sempre mostrou que infame e destrutivo é odiar no lugar de amar.
Muitos se calam e nada manifestam contra os opressores, mas o escritor sempre seguirá existindo e escrevendo suas enlouquecidas laudas para mostrar seu coração dissidente.
Feliz Ano Novo a todos.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná