Eleição e desilusão: mais que uma rima
J. J. Duran
Existem políticos que vendem sonhos e entregam pesadelos, mas a ilusão dos eleitores é de curto prazo, e logo vem a descoberta do triste engodo perpetrado pelos candidatos lobos travestidos de cordeiros.
Por isso, para os não corrompidos por este tempo infame o futuro sempre se converte em um desejo difuso e pouco crível de que será diferente de um passado que continua presente ainda hoje.
As desilusões, tal como diz a filósofa espanhola Remedios Avila Crespo, "não são simples erros cometidos pelos mentirosos, mas frutos da ilusão vendida por eles".
Políticos do arco-íris partidário prometeram pobreza zero. Grande ilusão. Palavras de ética e honestidade republicana foram gritadas pelos vencedores dos pleitos eleitorais. Puro engodo. E o tempo das promessas se converteu em conto dos ilusionistas.
"O futuro será melhor, pois todos são iguais perante a lei", propalaram os pedintes do voto, mas depois o discurso oficial se desvalorizou tanto qunto os políticos que os pronunciaram.
Essa triste constatação aponta para uma probabilidade muito grande de que que neste novo tempo eleitoral a desilusão será, uma vez mais, o fim inevitável do povo brasileiro, pois o desalento, a indiferença e o reaparecimento satírico dos personagens responsáveis pela defraudação material e moral da República são resíduos da enfermidade cultural que há tempos acomete o eleitorado.
A desilusão ocupou o lugar que se esvaziou pela fuga da esperança renascida cerca de 40 anos atrás com o ressurgimento da democracia prometida nos discursos proferidos nos palanques do glorioso movimento Diretas-Já. E só cresceu nos governos liberais e populistas que se alternaram desde então.
A esperança de sairmos rapidamente da crise moral que prostrou uma geração inteira ressurge reaparece agora como ilusão necessária para suportarmos a desilusão que tomou conta de quase todos.
E o que faz crescer ainda mais a desilusão neste momento pré-eleitoral é o surgimento de ignotas figuras políticas amparadas em biografias fajutas, como se fossem novos Messias.
A única saída para evitar que a festiva data eleitoral de outubro vindouro venha acompanhada de novas decepções é que os eleitores não comprem as ilusões vendidas por antigos e novos mercadores, pois se assim o fizerem, o despertar será um novo pesadelo.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras