J.  J. Duran

O sentido da vida se subtrai no brilho momentâneo de um beijo ou de uma efêmera vitória, num olhar que surge e logo se distancia.

Jogado no mundo sem saber por que nem para que, o homem sabe que nada sabe e, quando consciente de sua ignorância, já na velhice, reconhece que o sentido da vida é um mistério.

O saudoso sacerdote Hugo Mujica, imolado na luta fratricida platina, certa vez, quando o procurei em busca de ajuda, me disse: "Olha o filho de Deus pendurado na cruz: está dizendo, nesta imagem ensanguentada como mostra do abandono, que mesmo na hora da morte pode-se praticar um ato de amor final".

No fim de uma longa e conflitiva vida, Fiódor Dostolevski disse que o segredo da existência humana não reside somente em viver, mas também em saber viver e para que viver.

Nos muitos anos já vividos passei por momentos de efêmera glória e outros de terrível dor e escárnio, porém minha fé no que estava fazendo se manteve inquebrantável.

No exílio aprendi quanto vale deixar de lado o ódio e o ressentimento para abraçar a fraternidade que vem dos amigos. Que a violência, a mediocridade e a míope visão de superioridade se perdem atrás de pequenos atos de fraternidade.

Nessa fugaz passagem por este oceano de náufragos chamado mundo, muitos tentam preencher a página do tempo com ações hipócritas, procurando restabelecer em suas mentes fantasiosas o valor da palavra verdade, que sempre negaram.

Nesta viagem circular, esquecem que a vida é um rio caudaloso que desemboca na morte, que ao nascer se contrai uma dívida com a vida e se cresce e se vive para pagá-la da melhor forma.

Quanto a mim, optei pelas vielas tortuosas da democracia, quando muitos se sentaram à mesa com os tiranos corruptores da liberdade.

Optei pela fraternidade e pela humildade, porém cometi o pecado de não calar minha voz em troca de benesses passageiras.

Por isso, abracei a liberdade e a pobreza material, mesmo à custa do sacrifício desses seres maravilhosos que compõem a minha família.

J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná