A política e o Alzheimer
"Sabe com quem está falando?" Essa indagação, infelizmente muito usada por boa parte das figuras públicas do País, deveria ser banida do nosso linguajar. Quando muito, como bem diz o sociólogo e palestrante Mario Sergio Quintella, seu uso deveria ser permitido apenas àqueles que estão no último grau do mal de Alzheimer, aquela doença que faz com que, muitas vezes, a pessoa esqueça o próprio nome.
Mas como entre o ideal e a realidade há uma enorme distância, continuamos a ver muitas autoridades - e também pessoas ditas comuns - fazendo uso desse estratagema a torto e direito para serem tratadas com um privilégio descabido já que a lei deve valer para todos.
Essa tese, que defendo desde sempre, me veio novamente à mente por conta de um fato ocorrido no último fim de semana, em Curitiba, onde a vereadora Maria Letícia (PV) foi presa em flagrante por suspeita de embriaguez ao volante e desacato aos policiais escalados para atender à ocorrência de trânsito em que ela, segundo consta no B.O., bateu seu veículo em um carro parado.
Invocando para si o privilégio a que me referi poucas linhas atrás, a nobre vereadora deu um verdadeiro "show" na viatura enquanto era levada presa até a Delegacia de Delitos de Trânsito, de onde foi libertada quase 24 horas mais tarde, e sem o pagamento de fiança, por decisão do juiz plantonista.
Nesta segunda-feira (27) de manhã, o presidente da Câmara de Curitiba, vereador Marcelo Fachinello, notificou a Corregedoria da Casa para que as medidas cabíveis ao caso sejam tomadas.
"Esse Poder Legislativo, e aqui tenho certeza, falo em nome de todos os vereadores e vereadoras, firma o compromisso com a legalidade, mediante o estrito respeito à Constituição Federal e às leis", justificou ele.
Agora é esperar para ver no que isso vai dar. Ou, melhor, se vai dar em alguma coisa. (Imagem: iStock)