Argentina de volta ao passado?
J. J. Duran
Os argentinos são a mostra do contraste de se viver entre a euforia e a decepção, combinação que os leva a conviver com sucessivas e profundas frustrações.
Há um ano as ruas de Buenos Aires foram tomadas por uma multidão eufórica para comemorar a conquista de mais uma Copa do Mundo, e hoje aquelas mesmas pessoas são testemunhas silenciosas de histéricas manifestações políticas.
A volta da democracia não trouxe progressos socioeconômicos, apenas a liberdade de expressão e a reabilitação do Parlamento como recanto natural para dirimir, via diálogo, as divergências sociopolíticas.
O cotidiano se encarregou de mostrar uma acelerada e contínua deterioração das condições enfrentadas pelo cidadão comum para sobreviver em um cenário de calamitoso crescimento do desemprego, em um triste quadro atentatório dos direitos humanos - hoje, 40% dos meus patrícios argentinos vivem abaixo da linha da pobreza.
Nesse cenário de revoltantes contrastes surgiu a figura do obscuro deputado Javier Milei, um economista com facetas histriônicas e escasso conhecimento de como enfrentar a realidade atual.
Em qualquer sociedade saudável, o personagem Milei não teria muita referência no âmbito político, porém num país de eternos contrastes republicanos, sociais, econômicos e culturais se agigantou pela esperança de muitos pelo aparecimento de um messiânico salvador de um naufrágio sistêmico.
Em países onde a democracia é fraca, onde o arcabouço institucional dá primazia ao indivíduo, colocando-o acima das instituições republicanas, a sociedade termina por ser governada por autoritários saudosistas dos tempos das violações constitucionais, da liberdade e dos direitos.
Milei é mostra inequívoca do pseudo líder raivoso e dominado por perigoso complexo de fraquezas mentais, credos religiosos e uma visão distorcida da realidade.
Porém, num país com eternos contrastes esta figura é um forte candidato a ser o novo presidente. Se vencer, será a volta a um passado de tristes lembranças. (Foto: Wikimedia/Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná