Os discursos sem sentido
J. J. Duran
Embora nunca tenha sido fácil combinar o vigor econômico com um grau adequado de justiça social, fazê-lo hoje é quase impossível.
Em muitas Repúblicas indo-americanas abriu-se ampla fenda socioeconômica e cultural na formação de suas sociedades.
Conceituados analistas, independente da formação política de cada um, sustentam acertadamente que essas fendas resultam das contínuas e não cumpridas promessas redentoras, proclamadas em brilhantes jornadas eleitorais por discursantes raivosos.
Entre as promessas de milagres redentores feitas por vendedores da esperança e a realidade existe essa fenda, representada por grandes desigualdades que conformam o dia-a-dia de grandes contingentes de invisíveis sociais, que fenecem esperando os milagres prometidos.
Os governantes, não importa de que formação ideológica, têm que agir e discursar com racionalidade e tomar medidas que, ao invés de conteúdo emocional abundante, tenham o mínimo necessário de credibilidade para serem aceitas pela sociedade.
Todos aqueles que têm a oportunidade de estar no poder precisam demonstrar que só com sacrifícios e esforços comunitários é possível modificar um quadro que deixa triste sequela social.
Há que encontrar o ponto de equilíbrio entre as necessidades de sobrevivência e as possibilidades de modificar o cenário que faz com que parte do eleitorado siga apostando no ódio destruidor e não na convivência pacífica.
O epicentro dessa antiga crise econômica, social e cultural é a inequívoca incapacidade demonstrada, quando no exercício do poder, por ideólogos do liberalismo de mercado e progressistas outorgantes de benesses, o que torna o projeto restaurador das terríveis desigualdades uma ação cada vez mais de longo prazo.
O milagre da ressurreição dos mortos ficou só na Bíblia, como permanente mostra de que a realidade deve superar projetos demenciais do novo tempo socioeconômico e restaurador de moralidades e costumes.
Não será o liberalismo nem o socialismo, com suas variantes políticas e seus discursos populistas, que irá aplacar a fome que destrói vidas, famílias e a esperança de um futuro de bem-estar para todos.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná