A visão do agronegócio sobre os candidatos ao Palácio do Planalto
Xico Graziano
O pessoal da agricultura, como todos os brasileiros, começa a formar opinião nas eleições majoritárias. Analisa a cabeça da chapa, presta atenção na vice, rebusca as histórias. Aqui vai um resumo da visão do agro sobre os principais candidatos presidenciais (em ordem alfabética):
Alvaro Dias - Nada se aponta contra o senador, apenas se lamenta sua fraca expressão política fora do Sul. O Paraná, Estado que governou, é eminentemente rural, com fortíssimas cooperativas, e estas lhe demonstram querência. Seu irmão, Osmar Dias, agrônomo por formação, é um político respeitado. Na vice, Paulo Rabello, um liberal sério, não ajuda, mas também não atrapalha.
Ciro Gomes - Manteve inicialmente bons contatos com lideranças rurais. Depois, notoriamente, andou tropicando nas palavras, desagradando. Disse que reverteria a reforma trabalhista; depois, em nome de um estranho nacionalismo, condenou o acordo da Embraer com a Boeing. Ninguém gostou. Seu maior equívoco, porém, foi trazer para vice a senadora Katia Abreu (TO), considerada uma traidora do campo. Perdeu pontos no interior.
Fernando Haddad - Provável substituto de Lula, o ex-prefeito paulistano apanha por ser petista, embora nada indique que tenha pertencido ao miolo da quadrilha. Essencialmente urbano, provavelmente não sabe diferenciar uma lavoura de soja de um pé de milho. Sua eventual vice, Manoela D?Ávila, pertence àqueles grupos esquerdistas hostis ao agronegócio. Talvez recebam ajuda dos assentamentos de reforma agrária. Fora daí, apoio zero.
Geraldo Alckmin - Sempre foi bem acatado pelas posições moderadas, e respeitado pela experiência de gestão que carrega. São Paulo, afinal, anda equilibrado nessa terrível crise fiscal. Sua vice, a senadora gaúcha Ana Amélia, por anos jornalista na área rural, é adorada pelo agro. O acordo que fez, entretanto, com notórios picaretas da política deixou muita gente ressabiada. Naquele Centrão há quem viva de meter a mão na Conab, outros de mancomunar com frigoríficos, ou de roubar em portos e aeroportos, essas malandragens que ninguém aceita mais. Olho neles.
Jair Bolsonaro - Recebe, de longe, a preferência da turma do fundão. Em todo o mundo, agricultores são tradicionalistas, identificando-se com certa rudeza. Ademais, empolga os fazendeiros por sua firme defesa da propriedade privada, contra invasões dos bandidos agrários. Mostrou-se mal aconselhado, porém, ao dizer que romperá o acordo do Clima, pois este favorece a bioenergia e os programas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, incluídos no Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono). Seu vice, o general da reserva Hamilton Mourão, não faz nenhuma diferença.
Marina Silva - Nunca recebeu a preferência das forças do agro devido às suas posições ambientalistas radicais. Durante a votação do novo Código Florestal, em 2012, xingou todo mundo e se isolou. Apostou na desgraça. Desde a última campanha vem amenizando seu discurso, bem aconselhada por Marcos Yank, um agrônomo muito talentoso e articulado no agronegócio. Seu vice, Eduardo Jorge, nada se relaciona com o campo. Incógnita total.
Essa é, pelas minhas lentes, a fotografia tirada pelo agro no início da corrida eleitoral. Semana que vem se iniciará a campanha. Vai chover canivete aberto. Aí sim veremos quem está preparado para "pegar o touro à unha".
Xico Graziano é engenheiro agrônomo e conferencista