A democracia em risco
J. J. Duran
"Em épocas de mentiras generalizadas, dizer a verdade é um ato revolucionário" - George Orwell.
Durante muitos anos de minha vida como jornalista, sofri censura e até perseguição policial imposta pela tirania de turno dos tempos do ultraje à democracia na Argentina. Eu e muitos outros.
Só depois de vir para o Brasil reencontrei a liberdade para voltar a expor minhas opiniões sem medo.
Isso me fez compreender que a liberdade de expressão, quando usada dentro dos limites impostos pela convivência respeitosa, se encontra inserida na ordem pública da democracia, que, como sistema republicano, é impraticável sem a sua existência.
Minha experiência de vida me mostra que em tempos de negacionismo e discursos de ódio e confusão próprios da pobreza intelectual e moral dos oradores mentores da negação desse direito, jamais se tem a oportunidade de ouvir clareza dos saltimbancos do discurso político o que eles realmente pensam.
Sempre se espera a não banalização da crítica e o uso do bom jornalismo, bem como do respeito aos que divergem do nosso pensamento. Quanto a mim, sempre fiz uso da liberdade de expressão, jamais da libertinagem jornalística.
Nos meus quase 100 anos já vividos contemplei a passagem de raivosos chamados incitando o ódio, o armamentismo e a inculta visão primitivista de que o adversário político circunstancial é um inimigo que precisa ser destruído.
É difícil se tratar de políticas públicas quando quem governa pouco ou nada conhece sobre o significado da palavra democracia.
Esse tipo de conduta sempre faz crescer as desigualdades sociais, consequência inevitável da ação de lacunares autoritários do liberalismo, bem como dos ideólogos do socialismo utópico.
A democracia está em risco. Mas isso não é recente, pois assim sempre esteve por culpa de todos que olham as nuvens chegando para anunciar a tempestade, mas nada fazem para evitar que isso aconteça.
Por isso, é sempre oportuno escrever que "sem democracia não existe liberdade de expressão" e ter em mente a recompensa de que algo fizemos nos tempos idos para salvar nossos irmãos do fantasma do autoritarismo. (Foto: Télam)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná