A batalha das ideologias
J. J. Duran
Às vezes, a continuidade de uma determinada situação esconde a densa rede de acontecimentos que conduziram a ela.
São longas as batalhas ideológicas travadas na indo-América entre os que defendem o liberalismo do mercado e os que defendem o progressismo da justiça social. Longas e por vezes sangrentas, conforme se pode constatar nos livros que contam a história do chamado Cone Sul.
Há algum tempo Jair Bolsonaro era tudo como a grande figura máxima do liberalismo econômico, mas hoje rivaliza com ele o economista argentino Javier Milei, apontado por conceituados jornalistas platinos como figura meramente caricata.
Dono de um discurso insensato e vociferante, Milei prega um profundo revisionismo sobre o tempo, as lutas e as mortes produzidas no país vizinho pela guerra fratricida dos anos de 1970.
Mas tudo ainda é incerto no processo eleitoral platino. A vantagem obtida por ele nas prévias parece começar a diluir-se frente a um avanço significativo, nos três maiores redutos eleitorais argentinos, da candidatura do ministro da Economia, Sergio Massa, uma mistura de progressista com peronista kirchnerista e vertente do velho partido União Cívica Radical.
Todo chamado ao revisionismo dos anos fratricidas produz horror nos ambientes sociopolítico e econômico dessa importante República platina.
A situação complicadíssima pela qual passa a Argentina do ponto de vista econômico reflete o fracasso de longos períodos de governos pseudoperonistas, que inverteram o princípio de "primeiro produzir para depois distribuir" em busca de sua permanência no poder e geraram um cenário perverso para a grande maioria da população.
Existe uma densa rede de ideias, promessas, programas e relações geopolíticas gravitantes em torno desta eleição argentina, marcada para o mês que vem.
O passado político-idelógico dos anos de 1970 ainda não cicatrizou e reabrir essas velhas feridas é um ato demencial e que dificilmente irá produzir o resultado eleitoral almejado.
O tempo dará a resposta definitiva sobre isso.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná