Dominado por desertos, Israel inspira a agricultura do Paraná
Com mais de 60% do território formado por desertos, Israel revolucionou a maneira de produzir alimentos em meio à escassez hídrica. Fundamentado em tecnologia, o setor agrícola daquele país do Oriente Médio atende a 95% da demanda local com pouco mais de 20% de área cultivável. Para driblar a seca extrema, comunidade e poder público vêm desenvolvendo pesquisas que têm permitido o uso mais sustentável e racional da água.
Apesar de realidades territoriais completamente diferentes, Israel e Paraná possuem similaridades em relação à inovação agrícola, o que permite a troca de conhecimentos para impulsionar o crescimento das agriculturas de ambas as localidades. E justamente esse foi o propósito do Sistema Faep/Senar-PR ao promover, na primeira semana de setembro, a terceira viagem técnica a Israel com representantes de sindicatos rurais e algumas autoridades.
Durante as visitas técnicas, a delegação paranaense conheceu diversas iniciativas israelenses que solucionaram o desafio da falta de água. Sistemas de dessalinização garantem a produção de mais de 80% da água potável necessária, enquanto mais de 90% do esgoto são reutilizados e usados integralmente em atividades agropecuárias, colocando o país na liderança deste tipo de iniciativa
A experiência em Israel serviu também para comprovar que o Paraná já está avançando em direção à sustentabilidade, conciliando a produção agrícola com a conservação ambiental. Exemplo prático é a mais recente legislação paranaense regulamentando reuso da água para proveito urbano, agrícola, florestal, ambiental e industrial, o que deve reduzir a demanda pela água dos rios e garantir maior preservação dos reservatórios naturais que abastecem o Estado.
"O governo também está trabalhando nessa questão junto com a Faep, que lidera o processo de inventário das bacias hidrográficas do Estado em parceria com a Embrapa Territorial. É uma modelagem que mede a capacidade de armazenamento hídrico dos nossos rios. Muito embora tenhamos água em abundância no Paraná, sempre existiu a preocupação com o uso ordenado e racional, e, agora, conseguimos avançar com essa regulamentação", comentou o secretário estadual Valdemar Jorge, que integrou a comitiva.
DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO
Apesar do avanço nas legislações, o Brasil pode aprender com Israel quando se trata de investimento em ciência. Para lidar com as adversidades impostas pela natureza, a inovação passou a ser um atributo indispensável no país do Oriente Médio, por meio de uma política governamental que prioriza recursos para pesquisa e uma cultura de apoio ao desenvolvimento de talentos e lideranças.
O Volcani Center, centro de pesquisa e desenvolvimento agrícola mantido pelo governo e subordinado ao Ministério da Agricultura local, desenvolve mais de 75% dos estudos em inovação agrícola daquele país, hoje uma referência mundial em tecnologia - principalmente voltada à agricultura.
INCENTIVO À IRRIGAÇÃO
Apesar de o Paraná não sofrer com a falta de água como em outras regiões do Brasil, as mudanças climáticas têm aumentado a frequência dos chamados eventos extremos, ocasionando longos períodos de seca no Estado que prejudicam a agricultura, como nas últimas safras. Nesse contexto, a eficiência dos sistemas de irrigação em Israel chamou a atenção do grupo paranaense. Aquele país produz diversos tipos de cultivo em áreas com índices pluviométricos menores que 100 milímetros ao ano.
Na avaliação do deputado federal Sérgio Souza, também integrante da comitiva, o Paraná carece de incentivo à cultura da irrigação, evitando, assim, perdas de produtividade em safras atingidas pela irregularidade de chuvas e períodos prolongados de seca. "De Israel, conseguimos trazer a percepção de que temos várias opções de diversificar e de produzir mais. Podemos ir além, não apenas no Paraná", aponta ele. (Foto: Sistema Faep)