Os mitos na política
J. J. Duran
Junto com Jair Bolsonaro chegou ao poder republicano no Brasil uma nova elite política, uma mistura de membros conspícuos das Forças Armadas, setores do empresariado e pastores evangélicos fundamentalistas, com o fator econômico ficando sob a responsabilidade do banqueiro liberal Paulo Guedes.
Bolsonaro, o mito brasileiro, não é um fenômeno político estranho ao cenário indo-americano, pois representou o ressurgimento de um pensamento ideológico já estabelecido nos idos anos de 1960.
Foi uma espécie de pregoeiro incansável desde o poder, com seus raivosos e lacunares discursos para pregar algumas soluções aplicáveis, outras utópicas.
A mistura da política extremista e militarizada com pastores cujas virtudes evangélicas são meramente milagres televisivos criou uma instabilidade emocional generalizada entre os muitos seguidores incondicionais do mitológico governante.
Esse eleitorado respeitável representou, durante o governo cívico-militar de Bolsonaro, parte importantíssima da sociedade brasileira, crente fiel no fascínio do antissistema político tradicional.
Nesse interregno o sistema não oficial existente no semi presidencialismo brasileiro, uma mistura dos poderes parlamentar e judicial, se converteu num cartório despachante de escusos interesses com forte atuação de membros do patrimonialismo.
Isso fez com que os quatro anos de um governo eleito sob a tutela do sistema democrático transcorressem sem qualquer oposição relevante no Parlamento.
No governo Bolsonaro, tanto quanto no governo Lula, este mal chamado frente ampla, ou Centrão, de triste e comprovada fama especulativa a serviço de interesses pessoais e não do conjunto da sociedade, os mitos seguem caindo de seus falsos pedestais.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná