Javier Milei, o mito platino
J. J. Duran
Vencedor das eleições primárias na vizinha Argentina, o candidato Javier Milei se declarou ideologicamente um "libertário-anarco-capitalista". Mais: que se eleito presidente, irá dolarizar a Argentina, sair do Mercosul e rejeitar a China nas suas relações comerciais.
Também disse que diariamente lê o Torá, livro sagrado dos hebreus, povo do qual é fanático admirador, e fechou sua autobiografia afirmando que, também se eleito, irá eliminar o Banco Central da organização administrativo do Estado.
Nas urnas das primárias ele fez 30% dos votos totais, a maioria da fatia peronista raiz, porém com ampla aceitação junto à elite patrimonialista, sobretudo da capital Buenos Aires.
Ao longo dos últimos 78 anos a política argentina foi conduzida pelo peronismo sindicalista, o que restou do radicalismo alfonsinista e pelo conservadorismo dominante no segmento universitário.
O voto de Milei significa a rebelião dos mais necessitados contra os fazedores de promessas eleitorais que culminaram com as desigualdades sociais e produziram um amplo divórcio social a partir da década de 1970, quando o fim da guerra fratricida mostrou o êxito do Estado e marcou a alvorada de um novo tempo democrático.
O voto de Milei é o voto da raiva, da rejeição, do cansaço diante de um Estado ausente, com políticos medíocres e planos econômicos fracassados, que produziram a fome como realidade.
Diante de um cenário sociopolítico onde "tudo piora", existe uma dimensão social com traços messiânicos que renova o vínculo do cidadão platino de andar solitário com sua fidelidade ideológica entoada no hino da amizade.
Economista obscuro e considerado uma figura cômica-demencial em relação ao quadro político indo-americano, Milei é uma cópia de outros ultradireitistas que apareceram e logo desapareceram.
Para conquistar a esperança do povo argentino, ainda que com medidas antidemocráticas, usou violentos, agressivos, lacunares, vociferados discursos de campanha, prometendo colocar novamente de pé um país que está prostrado há longo tempo aos pés do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Um grande amigo e companheiro de lutas reivindicatórias os anos de 1970 me disse: "Milei é o passado que volta, um novo fracasso". Esperemos para ver.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná