Um povo sem alma
J. J. Duran
"Um povo sem alma é apenas uma multidão", escreveu o ex-ministro francês Alphonse de Lamartine, uma frase que nos obriga a meditar sobre a indo-América como um todo.
Desde tempos longínquos, os indo-americanos, salvo raríssimas exceções, sempre adotaram o fracasso como realidade e a frustração como símbolo, já que a esperança se perdeu pelo caminho.
A história de um país é a que mostram a sua alma e as páginas escritas pela frustração, e dela os indo-americanos sempre extraíram alegrias efêmeras e tristezas infinitas.
O jovem continente tem a sua alma coletiva marcada pelas mesmas lutas na busca da igualdade prometida.
Artista intenso e justamente celebrado e um homem admiravelmente digno e reto, Carlos Drummond de Andrade simboliza o desejo de se ter alma sim, mas autêntica.
A alma de cada povo depende muito dos entes telúricos que lhes deram a vocação, porém não há notícia de que qualquer nação tenha se tornado verdadeiramente poderosa sem a presença de líderes clarividentes, carismáticos, sábios e compreensíveis.
Nesses tempos conturbados não é possível identificar, em toda indo-América, os motivos da resistência das elites do atraso, patrimonialistas, retrógradas, autoritárias e com discurso monocórdio em procrastinar o advento das reformas econômicas e sociais necessárias.
A história da indo-América é a história de suas crises sistêmicas e do inconformismo daqueles que sempre se opuseram à universalização dos direitos.
Aí encontramos a responsabilidade e a culpabilidade pela omissão das elites políticas com suas ambições facciosas e seus interesses em desacordo com os da maioria do povo, o que geralmente termina em conflitos fratricidas.
A unidade dos povos indo-americanos não reside apenas no falar a mesma língua no amplo sentido da expressão, pois enquanto uns poucos tratam de trabalho, progresso e riquezas, a maioria esmagadora trata de desemprego, privações, injustiças, fome e outras razões de sua constante amargura.
Já escrevi diversas vezes que os mártires que deram seu sangue pela liberdade não se imortalizaram apenas pelo respeito e pela saudade que deixaram, mas também por cobrar a passagem, de uma geração para outra, da lâmpada votiva do futuro.
A verdadeira alma indo-americana está no seu passado glorioso.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná