Sonho x pesadelo: haitianos serão sepultados em Palotina
Como quase tudo no Brasil, o número de haitianos que aqui vivem é impreciso, mas diversas fontes, oficiais ou não, apontam para mais de 160 mil. São principalmente homens e mulheres jovens e de meia idade, que em muitos casos lá deixaram suas famílias e para cá vieram em busca de uma vida melhor, já que seu país de origem enfrenta graves problemas econômicos e sociais resultantes de desastres naturais e da instabilidade política.
E muitos deles hoje vivem no Oeste do Paraná, onde encontram empregos abundantes principalmente nas cooperativas agropecuárias, que formam o grande pilar da economia da região. Essa é a explicação para o fato de as vítimas fatais da tragédia da última quarta-fiera (26) na C. Vale serem majoritariamente imigrantes haitianos.
Saulo da Rocha Batista, de 53 anos, é o único brasileiro na lista oficial de mortos, que até aqui tem oito nomes. Os demais são todos haitianos: Michelet Louis, de 41 anos; Jean Michee Joseph, de 29; Jena Ronald Calix , de 27; Donald ST Cyr, de 24; Wicken Celestin, de 45; Eugênio Metelus, de 52; e Reginaldo Gefrard, de 30. E também de origem haitiana é o único trabalhador ainda sob os escombros da megaexplosão.
O fenômeno dessa migração foi descrito com riqueza de detalhes em sua tese de doutorado pelo professor Lineker Alan Gabriel Nunes, da UEL (Universidade Estadual de Londrina). "Migração e trabalho dos haitianos no Paraná (2010/2022)" é o título do trabalho, que acaba de ser concluído.
"Conversei com profissionais que eram advogados, engenheiros, professores no Haiti, mas que mudaram de área quando chegaram ao Brasil para não ficarem sem emprego. É nesse contexto que as vagas em frigoríficos e cooperativas, por exemplo, surgem como uma oportunidade. Elas representam uma inserção mais rápida no mercado de trabalho", contou o professor em entrevista ao portal G1 Paraná.
Lineker Nunes também explicou ter constatado que o Haiti sempre teve uma tradição de imigração por suas condições sociais e econômicas, mas que a ajuda humanitária prestada pelo Brasil por ocasião do terremoto de 2010 fez aumentar a preferência dos imigrantes saídos de lá por nosso País.
SEM VOLTA
Diferentemente de alguns outros imigrantes haitianos que morreram no Brasil, os da explosão no complexo industrial da C. Vale não terão seus corpos levados de volta para sua pátria de origem. Serão todos sepultados em Palotina, que acabará sendo sua morada definitiva. Após serem liberados pelas unidades de Cascavel e Toledo do IML (Instituto Médico Legal), eles estão sendo velados coletivamente no ginásio de esportes e serão enterrados ainda nesta sexta-feira (28) no Cemitério Municipal. (Fotos: Reprodução)