Crise faz produtores de suínos migrarem para outra atividade
Material jornalístico produzido pela Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná) e tornado público nesta segunda-feira (26) revela que a crise na suinocultura vem provocando uma reconfiguração da atividade no Paraná. Apesar de o preço dos grãos apresentar queda desde o início deste ano, as cotações permaneceram em patamares recordes nos últimos dois anos, impulsionando os custos de produção.
Os suinocultores independentes - aqueles que normalmente se dedicam ao ciclo completo - foram os que mais sentiram o impacto. Em razão disso, muitos de pequeno porte se viram obrigados a migrar para outra atividade. A tendência é que apenas suinocultores de grande escala continuem na produção independente.
Segundo estimativa da Faep, no início de 2022 a suinocultura do Paraná contava com 35% de produtores independentes. Hoje, essa fatia encolheu para 20%. Os levantamentos dos custos de produção, realizados semestralmente pela entidade junto aos polos produtivos do Estado, mostram que a produção independente de suínos entrou no vermelho a partir do início de 2021 e permaneceu no prejuízo por quase dois anos. O setor só voltou a ter um respiro no fim de 2022, mas que não foi suficiente para que muitos produtores se mantivessem na atividade.
Diferentemente dos produtores integrados, que recebem os insumos da agroindústria e produzem os suínos em suas instalações, os independentes se responsabilizam por todas as etapas: da compra ou produção da ração à comercialização do animal terminado. Em razão de ser uma atividade com mais riscos, em cenários positivos, a suinocultura independente tende a obter margens de lucro maiores que os integrados.
Em momentos de crise, no entanto, a integradora acaba por absorver parte do impacto, minimizando o peso sobre os integrados. Nessas ocasiões, os independentes, por sua vez, têm que arcar com o prejuízo sozinhos.
A presidente de Comissão Técnica de Suinocultura da Faep, Deborah de Geus, aponta outro fator econômico que pressionou os produtores independentes: as constantes altas na taxa de juros. Isso fez com que os suinocultores não conseguissem ter acesso a crédito, para suportar os momentos de crise aguda. Outro ponto é que, com os juros altos, os produtores não foram capazes de fazer adequações nas granjas, o que impactou nos índices zootécnicos do negócio. Mais uma vez, quem mais sofreu foram os produtores de pequeno porte.
"O independente, para bancar a atividade, tem que ter um capital de giro. E não tem dinheiro para pegar do banco, porque os limites de crédito estão racionados. Quando tem dinheiro, as taxas de juros estão muito altas. Então, tem produtor que, realmente, decidiu abrir mão da produção. Outros optaram por migrar, por buscar uma integração onde ele possa ser incorporado", diz Deborah. "Na região Sul [do Brasil], todos os suinocultores independentes estão sofrendo", destaca. (Foto: Sistema Faep)