Os inocentes
J. J. Duran
A certa altura da vida, o que nos resta para decifrar é puramente o passado, já que o futuro é totalmente incerto.
A condição humana nos leva ao esquecimento de "coisas do passado", porém existem "coisas do passado" que sempre pedem nosso regresso a tempos por vezes confundidos com o presente.
Podemos em um momento qualquer, entre os muitos de enormes dificuldades que enfrentamos durante nossa curta existência, fazer algo, apenas alto, que os outros não fizeram quando tiveram a oportunidade de fazer.
No cenário de nossa ex-pacata aldeia, às vezes cruzamos com seres que se intitulam superiores, sensores ferozes e privilegiados não pelo raciocínio, mas pela casualidade das origens, que no futuro que se avizinha serão velhos representantes do patrimonialismo que professam desde sempre.
A mística política exige certos condimentos naturais endógenos na formação da personalidade, que mostramos ao mundo com diferentes retoques.
Nós que temos a graça de Deus de poder usufruir de um espaço para expor, com humildade, nosso pensamento sobre temas da política, sabemos que nossa verdade nem sempre é a verdade verdadeira.
Mas não há dúvidas de que a combinação de política com religião produz no espírito dos jornalistas, como também dos leitores, a formação de um circo onde cada palhaço recita sua grotesca verdade.
É necessário lembrar que os inocentes apareceram muito antes dos xiitas conturbadores que, com a espada em punho como ilustres lutadores medievais, saem a cortar cabeças dos que ousaram divergir da nova "bíblia" escrita por eles em assembleias de obscurantismo e não de iluminismo político.
Os mercadores do ódio não compreendem que na política todos os vencedores e perdedores são, como bem nos ensinou J. F. Kennedy, "triunfadores que tentaram mudar o andar das nuvens no céu republicano".
Não se institucionaliza privilégios, nem se globaliza o pensamento único em uma sociedade exausta de ser maltratada por uma minoria que tem mais poder econômico que matéria cinza no cérebro.
Quase centenário, sou dos últimos escuros membros de um tempo da história indo-americana no qual muitos deram suas vidas em defesa da democracia. Esses mortos por gritar por liberdade, sim, foram inocentes. (Foto: Câmara dos Deputados)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná