Indústria à base de plantas entra no radar do agronegócio
Os produtos à base de plantas, conhecidos como plant-based, têm ganhado popularidade nas prateleiras dos supermercados mundo afora. E o Brasil, por mais que tenha demorado, não escapou dessa nova tendência de consumo. Esse mercado tem atraído empresas tradicionais da indústria de carnes e, segundo estudos, deve movimentar cerca de US$ 370 bilhões até 2035.
A explicação para essa demanda é que o consumidor tem priorizado uma alimentação mais saudável e sustentável, de acordo com reportagem publicada nesta quarta-feira (14) pelo Sistema Faep/Senar. O público-alvo do setor não deixou de consumir produtos de origem animal, mas reduziu e incluiu os plant-based no dia a dia. Segundo pesquisa realizada em 2022 pelo GFI Brasil, 65% dos 2,5 mil entrevistados afirmaram que, nos últimos 12 meses, haviam consumido alternativas vegetais para carne, leite e ovo ao menos uma vez por semana.
OPORTUNIDADES
Considerando a diversidade e a capacidade produtiva do agronegócio, o Brasil tem chance de ocupar um papel significativo na indústria plant-based. Neste cenário, o Paraná pode ocupar uma fatia significativa do mercado. O aumento da oferta de ingredientes nacionais é uma das demandas da indústria plant-based para diminuir a dependência externa. Segundo análise do GFI Brasil, o País tem potencial para abastecer esse setor com insumos de alto valor agregado a partir de grãos e leguminosas, bem como suprir a demanda por ingredientes, como oleaginosas, vegetais, nozes e cereais. Inclusive, o Senar-PR tem diversos cursos de capacitação para auxiliar os produtores rurais do Paraná nestas e outras culturas.
"Minha dica é o produtor rural estar atento a esta nova demanda de mercado e entender se consegue fornecer seguindo os padrões de cada uma das empresas", aconselha Mari Tunis, diretora de marketing da Fazenda Futuro, foodtech focada em produto à base de plantas que mimetizam carnes. "Uma vez que esse produtor estiver de acordo com essas premissas, certamente terá maior valor agregado", acrescenta.
"O aumento da oferta de matérias-primas de origem nacional ajudaria a reduzir o preço final dos produtos à base de plantas, devido à cotação do dólar que pressiona os valores de matérias-primas importadas", complementa Raquel, do GFI Brasil.
De acordo com a instituição, um exemplo são os hambúrgueres de ervilha, que ficam 30% mais baratos quando o pulse não é importado do Canadá, seu maior produtor. A ervilha é uma das proteínas mais usadas na carne vegetal e, devido ao aumento do consumo, o mercado observou alta dos preços em 2021 - acentuada pela redução de oferta do Canadá, que teve quebra de 31% na produção.
Hoje, o mercado plant-based brasileiro é formado por cerca de 130 empresas, que exportam para mais de 25 países. Segundo dados da agência Euromonitor, entre 2015 e 2020, o Brasil registrou crescimento anual de 11% nas vendas destes produtos. No faturamento, a alta foi de 70%, totalizando R$ 418,7 milhões. Para 2025, a projeção é atingir R$ 666,5 milhões.
PESQUIAS
No momento, estudos com matérias-primas e tecnologias brasileiras para nacionalizar os produtos têm sido um dos carros-chefes do setor plant-based. Diferentes instituições de pesquisa, como Embrapa e UFPR, realizam estudos de viabilidade para o desenvolvimento de novas proteínas alternativas. Outros projetos incluem o Programa Biomas e o Programa Elo, que financiam pesquisas para criar ferramentas que usufruam do potencial da biodiversidade brasileira para desenvolver novos ingredientes e trazer renda adicional ao produtor.
Mas para tanto é necessário o País avançar na regulamentação do mercado de proteínas alternativas. Um dos pedidos é a redução tributária dos produtos. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária estão participando da discussão, mas ainda não há previsão para uma medida regulatória. Por enquanto, as proteínas vegetais aprovadas pela Anvisa são enquadradas como suplementos alimentares. (Foto: Divulgação)