Dia de cão
J. J. Duran
A grande lição que devemos tirar dos episódios que assolaram Brasília e enlutaram toda a República no início deste ano, é que foi uma explosão tresloucada e insensata, sem a menor justificativa em se tratando de um tempo democrático.
Não se pode falar de inconformismo das classes populares do País, já que os manifestantes, em conluio com as forças encarregadas de zelar pelo patrimônio republicano, tentaram realizar uma ruptura institucional diante do triunfo, nas urnas, daquele que não era o seu candidato preferido, e da repulsa que isso despertou.
O que vimos nesse dia de cão poderia ter se transformado em atos sangrentos, nos quais a lei e a ordem são transformadas em cartas fora do baralho.
Passado aquele triste momento, precisamos começar a meditar e a usar a sabedoria para caminhar, com a maior rapidez possível, rumo às reformas que o País realmente precisa, não as defendidas por aqueles movidos por interesses escusos.
Não há ordem jurídica que ampare e proteja minorias enlouquecidas pelo discurso da ambiguidade política-social.
A elite do atraso, minoria patrimonialista histórica, nunca aceitou e não aceita ainda hoje compartilhar com os legítimos representantes do pensamento progressista os benefícios de um governo que proteja e fomente a sábia união entre capital e trabalho para transformar esta Pátria colonialista sempre espoliada pelos donos do poder transitório em uma grande potência.
Não há Carta Magna que proteja os interesses cristalizados da elite do atraso em um processo democrático desenvolvido nos recintos parlamentares e alicerçado em obrigações e direitos deixados de lado por quem se apega às ameaças e ao discurso fácil para reviver um passado que dói ainda hoje no corpo e na alma dos muitos que sofreram as penúrias das noites de usurpação da democracia.
Precisamos, através do Parlamento, fazer das instituições não um fim em si mesmas, mas sim instrumentos de realização do bem-estar e do progresso.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná