Uma bomba-relógio
J. J. Duran
Um tempo de pobreza expandida e riqueza concentrada, fome e desesperança é o horizonte que se apresenta. E para recuperar a esperança de dias melhores é imprescindível ter estômagos sem fome, crianças com lar e outras condições para uma vida com dignidade.
Até o neoliberalismo, adotado depois de um longo ciclo de expansão do capitalismo, se encaminha para um ciclo recessivo e sem bom horizonte - o neoliberalismo chegou com o declínio do socialismo democrata cristão e a social democracia foi a primeira parcela da política universal a aderir a ele.
Na indo-América, chegamos ao tempo dos líderes sem liderança mental, porém com firme condução governamental de ações ruidosas, mas que deixaram a gestão econômica nas mãos de banqueiros ou figuras obscuras do pensamento social cuja atuação acabou agravando ainda mais o amplo fosso das desigualdades, sobretudo no campo laboral.
Dentro desse cenário, o atual governo brasileiro poderá sucumbir rapidamente diante de um Congresso Nacional dominado pela mais podre organização representativa do pensamento patrimonialista.
Essa polarização ocorre num momento em que urge dar início a uma política clara e determinada de desenvolvimento, na qual a força do empresariado seja a grande ferramenta.
Sem esse movimento, indispensável para a recuperação da economia, o combate às desigualdades geradas por uma política econômica recente que se notabilizou por eliminar direitos trabalhistas e previdenciários poderá naufragar em curto espaço de tempo.
No Brasil, se a esquerda pensante, silenciosa e não ruidosa, e paradoxalmente também a direita conservadora, não a aloprada, não decifrarem o momento vivido e colocarem em ação as soluções exigidas pelo problema socioeconômico que angustia o País e também o restante da indo-América, acabarão devoradas sem demora como expressões sociopolíticas.
O tic-tac dessa bomba-relógio já soa forte em todo nosso jovem continente. (Ilustração: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná