Transplantado também pode ser atleta de alto rendimento
Vinte e cinco medalhas foram trazidas para o Brasil por atletas transplantados e doadores de órgãos que participaram do World Transplant Games 2023, na Austrália. Entre eles está o transplantado renal Ramon Lima, 41 anos, que é de Curitiba foi protagonista de dois bronzes nas provas de corrida de 1.500 metros e 800 metros.
"Voltamos para casa com o sentimento de missão cumprida. Representar o país num evento internacional como esse é um grande privilégio e, no final, o maior prêmio é contribuir pela divulgação da doação de órgãos", declara Ramon.
Hoje, quem vê Ramon praticando corridas de rua não imagina o que ele já passou até poder voltar a levar uma vida normal de novo. "Precisei superar limites e medos. Só depois de conhecer atletas transplantados é que percebi a minha capacidade para percorrer o caminho do esporte, que já fazia parte de mim", revela.
"Vi no esporte uma maneira de mostrar a importância da doação de órgãos e desmistificar a ideia de que transplantado é alguém com muitas restrições e que não pode se exercitar", relata ele, que foi diagnosticado com insuficiência renal crônica há 11 anos, passou pela diálise peritoneal, ficou cerca de um ano na fila por um transplante e, em janeiro de 2020, recebeu a ligação de que um rim compatível o esperava.
ESPORTE É SAÚDE
"Os transplantados que se exercitam ficam internados menos tempo, podendo voltar mais rápido ao trabalho e à vida social, o que reflete em mais qualidade de vida", conta Alexandre Tortoza Bignelli, nefrologista e coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Cajuru, 100% SUS, em Curitiba.
O médico, que acompanha o caso de Ramon desde o início, explica que as atividades físicas podem funcionar como um remédio. Para um estudo da Universidade Nacional Yang-Ming, em Taiwan, cientistas coletaram dados sobre a saúde e a frequência de práticas aeróbicas de 4,5 mil pacientes com perda das funções dos rins. Ao cruzar as informações, notaram que a prática de exercícios fez diminuir em 17% o risco de evolução para fases mais graves da doença.
Nas últimas duas décadas, o Brasil viu o número de pessoas com doença renal crônica triplicar. Hoje, estima-se que 13 milho?es convivam com a doença e mais de 140 mil façam diálise no País. As estatísticas brasileiras não destoam do resto do mundo. Calcula-se que 850 milhões de pessoas em todo o planeta têm algum comprometimento renal.
"O grande desafio da doença renal é que, em sua fase inicial, ela é assintomática. Para reverter esses desfechos, a saída é trabalhar pela conscientização sobre os fatores de risco que levam ao colapso dos rins, caso de diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo", encerra o nefrologista. (Foto: Divulgação)