Por que? (I)
J. J. Duran
A visão que cada um tem da política e das frações da classe à qual pertence é resultado da forma como percebe a sociedade como um todo.
Jair Bolsonaro, membro conspícuo do baixo clero parlamentar e saudosista confesso do passado militarizado da República, liderou um importante e respeitável segmento da sociedade como força pró-fascista de um grande movimento político.
Todo seu discurso lacunar foi dirigido para essa parte da sociedade, que estava à espera do ressurgimento do tempo da vigência absolutista do patrimonialismo.
Durante toda sua duração quase monárquica, o governo bolsonarista jamais esteve direcionado a denunciar o declínio moral da classe política junto ao entorpecimento das relações sociais do deus mercado.
Com o apoio, mesmo que nas sombras, da elite do atraso e forte atuação nas redes sociais de moralidade discutível, alimentou e manteve na militância ruidosa das ruas uma massa de pseudo pensadores sociopolíticos autointitulados "patriotas" que, por fim, acabaram depredando a representação material dos poderes republicanos.
O ato terrorista do 8 de janeiro de 2023 ficou gravado na História brasileira por uma breve e clara pergunta: por que?
A classe protofascista, escurecida pelo poder transitório da toga lendária da Operação Lava Jato, politizou a Justiça, enquanto o governo Bolsonaro militarizou o poder democrático. Por que?
Por que um líder tosco transformado em mito criou e impôs o seu pensamento autoritário?
Por que esse líder, cheio de incertezas seletivas da verdade, viveu e governou em um mundo irreal e dominado pelo pensamento ideológico do autoengano?
Por que, desde as penumbras ideológicas que o formaram como autêntico e determinado defensor de um tempo que já repousa nas páginas do passado histórico da República, esse líder despertou um ódio desmedido aos seus opositores e à turma da toga?
Por que esse grupo de xiitas, pós 8 de janeiro, repousa nas páginas que descrevem a ação dos que enlutaram a República Federativa do Brasil? (Foto: José Cruz/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná