O sarampo dos saudosistas
Alceu A. Sperança
Impressiona a ânsia de tanta gente pela volta ao passado. Os lulistas vendem uma era de conciliação entre capital e trabalho, empresas crescendo, pleno emprego e salários em alta. Há também os que sonham com um passado ainda mais distante e desconhecido pela juventude: censura à imprensa, pacotes ditatoriais impostos na marra e repressão aos opositores, incompatível com a democratização trazida pela internet.
Há razões para temer o futuro e querer voltar a um passado que só os defensores do retrocesso e do atraso consideram o melhor dos mundos? Só se a certeza de que o futuro será pior justifica as pretensões nesse sentido. Mas o futuro será melhor: os economistas supõem que o Brasil voltará ao nível de vitalidade econômica de 2013 depois do bicentenário da Independência, em 2022. Um avanço para trás...
Enquanto outras nações já se despedem da crise, caso de Portugal, que recorreu a uma ferramenta política apelidada de "geringonça", passível de traduzir por uma espécie de "união nacional progressista pelo desenvolvimento", o Brasil patina, a crise se desdobra em violência e voltar atrás interessa a muita gente.
O retrocesso é prato cheio para quem ama os cortes "austeros" nos recursos para programas sociais e mais repressão aos descontentes com a desordem temerária. Como que realizando o sonho de voltar ao passado, o sarampo que se considerava derrotado retornou com força.
A virologista Clarissa Damaso, assessora da Organização Mundial de Saúde, lamentou: "Voltamos aos anos 80. É como mergulhar na idade das trevas, jogar fora anos de trabalho. É inadmissível que tenhamos chegado a esse ponto". Cuidado: descuido com a vacinação e com a democracia despertam o pior de um país!
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br