Bolsonaro insular, Lula continental (final)
J. J. Duran
Nos anos mais recentes o Brasil, quinta potência dos Brics e primeira da indo-América, geopoliticamente foi um pária, náufrago solitário num oceano conturbado pela pandemia, pela guerra Rússia x Ucrânia e pelos problemas domésticos oriundos da pobreza que assola nosso jovem continente.
A política, ou geopolítica internacional, que o Brasil imprimiu recentemente o empurrou ao ostracismo e ao isolamento. Essa foi a consequência também das fake news que levaram boa parte da população a visualizar, em todos os rincões da terra, esquerdistas inimigos que somente queriam a destruição da direita, nela incluída o bolsonarismo raiz e vociferante.
No concerto das nações, o simbolismo, a figura e o talento fazem parte importante da gestão geopolítica de um país. O Brasil, lamentavelmente, após anos de esplendor protagonizados pelo visionário corpo diplomático herdeiro de Rio Branco, caiu no descrédito.
Num mundo totalmente globalizado, onde não existem mais fronteiras nem imposições violentas, Jair Bolsonaro não teve a capacidade de olhar muito além de seu mundo de motociatas e se empenhou em impor a descortesia quase primitivista de atitudes, mensagens e gestos em um mundo que se debatia entre um número crescente de mortes, fome e desemprego.
O "Mito" tentou mudar figuras e simbolismos e, com isso, levou de roldão a figura presidencial e só não desintegrou o sistema republicano brasileiro por conta da oposição ferrenha de figuras consulares.
Mesmo assim, não se deve subestimar o bolsonarismo ou menosprezar o pensamento ideológico-político de seu principal mentor, pois o colapso eleitoral, os atos terroristas resultantes de quatro anos de constantes chamados ao armamentismo e a violência verbal ainda subsistem.
A polarização eleitoral de 2022 foi produto de uma fantástica campanha de desinformação e acabou por deixar, como herança, a comprovação de que a democracia brasileira tem força, elementos e nomes com capacidade de defender um sistema de vida fraternal e ordeiro, onde o vocábulo "inimigo" só tem espaço nas cabeças de uma minoria xiita ainda esperançosa de uma reviravolta rejeitada pela maioria do eleitorado nas urnas.
O Brasil não tem vocação insular, ao contrário, sempre foi e continua sendo um país continental não só territorialmente, mas também por vocação.
Bolsonaro, enfim, não compreendeu a história e a geopolítica, enquanto Lula, apesar de bastante maculado pelas circunstâncias que o levaram à prisão, tirou o País do isolamento e o livrou dos desvarios separatistas.
De tudo isso resta a conclusão de que só existe um Brasil: livre, fraternal e continental. (Foto: Ricardo Stuckert/PR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná