Bolsonaro insular, Lula continental (I)
J. J. Duran
Jair Bolsonaro passou mais de 28 anos de sua vida como membro do chamado baixo clero parlamentar antes de chegar à Presidência da República e dois momentos seus, um em cada etapa de sua vida pública, foram determinantes para sua biografia e para a história do Brasil.
O primeiro foi seu voto favorável ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff, quando se proclamou líder da direita e um inflamado defensor do tempo da irrupção militar na democracia.
O segundo foi quando, ferido em um atentado absurdo na campanha eleitoral que o levou ao poder, teve o acompanhamento e a solidariedade da maioria esmagadora da população brasileira, sem distinção de bandeiras político-partidárias.
Chegou ao mais importante cargo do País via eleições límpidas e livres, porém sem jamais ter apresentado um programa de governo com a devida clareza.
Inegável que foi um hábil construtor em seus ataques desaforados aos opositores, fazendo com que as chamadas redes sociais, pela primeira vez na história, passassem a ser fonte de grande volume de desinformação.
O tempo transcorrido desde sua eleição teve diversos ingredientes importantes que o levaram à frustrada tentativa de reeleição.
E o primeiro, e talvez o mais importante, foi a insistência em não reconhecer a letalidade da Covid-19, que ceifou a vida de mais de 700 mil brasileiros e deixou marcas dolorosas em milhões de lares de familiares e amigos dessas vítimas. Seu tratamento a essa questão levou a figura presidencial ao ostracismo.
A radicalização sistêmica e calculada dos discursos para inflamar seus seguidores também foi determinante, já que a sociedade brasileira é majoritariamente conservadora.
Está claro que sua mensagem discursiva antissistema assustou a maioria dos famosos centristas do parlamento sem vergonha, conhecidos por seus conchavos que escurecem cada dia mais a história da política brasileira.
Como se isso não bastasse, nos últimos momentos de sua gestão emergiram as figuras dos generais quatro estrelas para tutelar , nas sombras do circulo vermelho do poder, os arroubos presidenciais contra as instituições mães do sistema republicano e seus circunstanciais representantes.
Mas chegou ao fim o mandato do presidente que se autointitulou "imbrochável" e, com isso, começou o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que ressurgiu no cenário político como uma Fênix depois de viver 580 dias em uma cela da Polícia Federal em Curitiba por ter sido condenado pelo ex-juiz e agora senador Sergio Moro. (Foto: Valter Campanato/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná