Do Haiti ao Palácio do Planalto (3ª parte)
J. J. Duran
O que levou o seleto grupo de generais que esteve em missão de paz em Porto Príncipe, no Haiti, a desembarcar politicamente no Palácio do Planalto no Governo Jair Bolsonaro?
Esses generais ocuparam as mais delicadas funções em um gabinete cívico-militar para constituir o círculo vermelho do poder e respaldar, porém também tutelar, a gestão do ex-capitão.
Ficará incógnita na história a resposta a essa pergunta, pois nada fizeram para conter os desvarios do presidente e sua errática condução autoritária de um governo que, apesar de eleito democraticamente, foi marcado pelo fundamentalismo religioso e deixou como legado político uma ideologia já ultrapassada.
O grupo de generais quatro estrelas em momento algum representou, entendo eu, o projeto de regresso ao militarismo autoritário, portanto fora das quatro linhas da Constituição.
Ao contrário, junto ao banqueiro liberal Paulo Guedes, formou um entorno intocável e impermeável às investidas do chamado gabinete do ódio, mostrando que seu poder estava acima das circunstanciais polêmicas criadas pelos filhos do presidente.
Mas será que a gestão personalista imposta por Bolsonaro e sua constante incitação ao desrespeito às instituições contradizem o poder tutelar exercido pelos generais membros do mais alto escalão governamental? Eis mais uma pergunta sem resposta.
Grupos minoritários de integrantes das Forças Armadas viveram nas sombras deste governo conflitivo, o que o fez um exemplo típico da política híbrida, na qual a maioria militar chamada a cogovernar não embarcou, por formação e por instinto de preservação.
Junto a esse grupo fardado também coexistiu no governo bolsonarista o grupo fundamentalista evangélico, atraído que foi pela primeira dama Michele, mulher de cuja religiosidade a parcela evangélica do País não poderá jamais duvidar.
O Governo Bolsonaro procurou impulsionar o desmonte do sistema republicano e pagou o preço, pois a política é impiedosa. E esse pequeno grupo de militares de alta patente, o que fez exatamente na sua gestão? (Foto: Antonio Cruz/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná