A Câmara vai perder tempo
O jornalista e escritor Alceu Sperança lembra, com propriedade, que quando não havia salário para vereadores, nem um batalhão de assessores acotovelando-se pelos corredores da Câmara de Cascavel, fazer sessões noturnas era uma necessidade porque os legisladores precisavam se virar com os afazeres particulares enquanto houvesse sol para ganhar o pão de cada dia.
Mas isso era até meados da década de 1970, quando praticamente um de cada três vereadores cascavelenses representava um determinado distrito, como Cafelândia, Nova Aurora e Santa Tereza do Oeste, e acabaria perdendo quase o dia todo de trabalho se as sessões fossem realizadas durante o chamado horário comercial.
Depois, coincidentemente com a justificativa de que as sessões noturnas não atraíam a atenção da população - que, diga-se de passagem, só podia acompanhar as votações de corpo presente, pois à época não existia internet -, a Câmara achou por bem passar a realizar as sessões durante o dia, às vezes pela manhã, às vezes à tarde. E, por ironia do destino, o plenário continuou praticamente vazio, a não ser em casos pontuais.
Por tudo isso, atualmente não faz nenhum sentido os vereadores voltarem a se reunir à noite, como irá acontecer nos próximos dias 20 e 21, sob o argumento de que é preciso facilitar a presença dos eleitores, que não estão nem aí não por causa do horário, mas do conteúdo das sessões, que há muito não tratam mais de temas interessantes como denúncias concretas contra homens públicos (incluindo eles próprios), a buraqueira que toma conta das ruas ou o uso das multas de trânsito, meio ambiente etc como meras ferramentas arrecadatórias.
As novelas continuam sendo produzidas com profissionalismo muito maior e não vão perder audiência para reuniões de vereadores que, com reconhecidas exceções, se mostram mais preocupados em aprovar homenagens a cabos eleitorais do que propriamente com os espinhos que ferem os pés dos seus eleitores.
Portanto, se o objetivo realmente é testar o interesse da população (e dizem que é) podem ir tirando o cavalo da chuva, pois será pura perda de tempo. (Foto: Flávio Ulsenheimer/Arquivo CMC)