Do Haiti ao Palácio do Planalto (1ª parte)
J. J. Duran
Escrever com respeito absoluto à verdade implica em dizer que o governo de Jair Messias Bolsonaro resultou da típica construção de um poder militarizado em tempos de democracia.
Dois representantes da sociedade civil foram os fiadores dessa tentativa um tanto quanto alheia ao momento sociopolítico vivido pela indo-América: o banqueiro ultraliberal Paulo Guedes e o ex-juiz Sergio Moro, principal cabeça da Operação Lava Jato.
Em 2018, quando da formação do novo governo, o segmento militar foi o mais contemplado em postos chaves do Executivo federal.
Mais de 6.500 representantes do Exército, Marinha e Aeronáutica passaram a integrar a força comandante do poder político.
Foi um caso claro de ruptura do real papel das Forças Armadas na República, que incluiu a liberação de importantes membros da reserva e da ativa para atuarem a serviço de um governo eleito da forma mais democrática possível: pelo voto.
Com o tempo, esse contingente militar se converteu em controlador, tutor e defensor absoluto de um governo caracterizado pelo antissistema na sua gestão político-administrativa.
Nada que tenha surpreendido, pois o presidente já havia declarado, em viagem aos EUA, que era necessário "desconstruir muitas coisas existentes no poder".
Com seu léxico lacunar e sua prosódia tortuosa, Bolsonaro anunciou que seu mandato iria executar as tarefas impostas a ele pela força gestora e propulsora da criação do "Mito".
Assim se configurou o poder compartilhado entre o baixo clero político chegado ao poder junto com Bolsonaro e militares de forte expressão e ascendência entre seus pares uniformizados.
De acordo com militares não chamados para compor o gabinete, os ungidos do presidente eram todos integrantes da chamada "irmandade" militar.
Irmandade esta conhecida nos meios castrenses como "das quatro estrelas" em alusão à patente alcançada pela maioria dos componentes do estafe palaciano.
Uma irmandade, vale lembrar, que se popularizou no tempo dos capacetes azuis que desembarcaram no Haiti e chegou ao Palácio do Planalto para fazer a cogestão de um período sociopolítico ideológico e fundamentalista de difícil conceituação. (Foto: Marcello Casal Jr/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná