O pós-bolsonarismo
J. J. Duran
A anomia destrutiva e o fanatismo apocalíptico encenados nos ataques de bolsonaristas aos recintos dos três poderes da República, em Brasília, em uma explosão coletiva de histeria totalmente injustificável, lembram os relatos feitos sobre a loucura pelo escritor Vargas Llosa.
Porém, esse vandalismo consentido pela ingovernabilidade consagrou a instalação, no cenário da República, do pós-bolsonarismo.
O 8 de janeiro de 2023 foi marcado pela intoxicação das chamadas redes sociais, caricaturas de um jornalismo desnaturalizado, e representou como fato histórico um "lapsus catártico" produzido por uma minoria xiita de aloprados militantes da ultra direita.
Parte dessa força chega desprendida da corrente ideológico-religiosa colocada no cenário político por grupos defensores da renovação dos costumes.
Cresceu sem controle, porém com o apoio do passivo aparato das forças policiais e o desencanto com a viagem de férias do Mito, um movimento que a elite do atraso organizou, financiou e colocou na Esplanada dos Ministérios.
Petismo no poder e bolsonarismo da oposição formam parte substancial da democracia. Aqueles que não acreditam nisso devem buscar nas madrugadas da civilização um pouco de conhecimento sobre as transformações pelas quais passou a humanidade.
Existe inquestionavelmente no Brasil, como em grande parte da indo-América, uma forte corrente política-ideológica antissistema.
O problema, insisto como simples visualizador do cenário político, é que pela gestão equivocada de alguns de seus membros o bolsonarismo misturou nos sodalícios políticos a Bíblia sagrada e seus preceitos, que em pouco ou nada condizem com muitas das práticas políticas da atualidade.
A igreja, seja ela qual for, deve ser amplamente respeitada "dentro das quatro linhas da Constituição", como costumava dizer Bolsonaro quando ainda no poder.
A passagem dos dias que vão contar novos quatro anos da vida política brasileira começou sem pausa e com uma indagação pertinente: o que vem pela frente depois do bolsonarismo? (Foto: Marcello Casal Jr/AGBR)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná