Coodetec: sonho ou pesadelo?
Depois de colocar no limbo definitivo a marca Coodetec, com o lançamento da Brevant (um guarda-chuva que abriga também as marcas BioGene e Dow, que deixam de existir), a gigante Corteva, resultado da fusão da Dow Agrosciences e Du Pont, prepara-se para vender o patrimônio imobiliário do antigo Centro de Pesquisas localizado em Cascavel. A área de 474 hectares já estaria sendo ofertada no mercado imobiliário e, segundo fontes do setor, logo deverá trocar de mãos.
De fato, um clima típico de fim de feira parece tomar conta dos funcionários remanescentes da Cooperativa, com filiais em Palotina e Goioerê (PR), Rio Verde (GO) e Primavera do Leste (MT) e que já chegou a empregar mais de 500 pessoas.
O Alerta Paraná chegou até o diretor da unidade, Marcos Melo, que se esquivou do assunto e prometeu que alguém da Dow AgroSciences retornaria a ligação para dar os devidos esclarecimentos, mas isso aconteceu. O cadastramento via internet também foi feito, conforme exigência da sede da empresa em São Paulo, mas nem isso garantiu uma resposta.
Enquanto isso, é voz corrente entre os funcionários que o centro de pesquisas de Cascavel (197 alqueires) será desmobilizado, com a venda da área agricultável e de experimentação que compõe o entorno do edifício-sede.
FALTOU CORAGEM?
A Coodetec foi fundada em 1995, sob inspiração da Ocepar, por cooperativas brasileiras preocupadas em deter uma rede de pesquisas e desenvolvimento de sementes adequadas às necessidades dos agricultores cooperados e reduzir a dependência de multinacionais. Inicialmente, as pesquisas se concentraram no trigo (cultura até hoje esquecida pelas multinacionais), mas logo se estendeu à soja, ao algodão e ao milho.
Em 2010, a Coodetec já brigava de igual para igual com as grandes do mundo. Liderava o ranking das empresas de pesquisa e desenvolvimento de novas cultivares de trigo e respondia por 26% do mercado brasileiro de sementes de soja, além de expressiva participação no concorrido mercado de híbridos de milho.
Nos anos seguintes, com a corrida às sementes transgênicas, a concorrência recrudesceu e as 34 cooperativas então associadas viram-se numa encruzilhada. Ou investiam recursos maciços em estrutura de pesquisa, para fazer frente às transnacionais, ou batiam em retirada.
Os detalhes e nuances desta frente de batalha permanecem até hoje envoltos num véu de mistério. O fato é que, sem publicidade, como que envergonhadas de abandonar a frente de luta, em meados de 2014 as cooperativas decidiram entregar os pontos. Seu banco genético, então apontado como um dos mais ricos do mundo, as instalações e toda a estrutura foram vendidos à norte-americana Dow AgroSciences, por um valor até hoje não informado à opinião pública. Todo o patrimônio físico e acervo genético construídos sob a bandeira do desenvolvimento de soluções sob medida para as necessidades dos agricultores (e não para satisfazer às necessidades da própria indústria multinacional) foi transferido exatamente para as transnacionais, e o sonho se transformou em pesadelo. (Foto: Arquivo)