Feliz 2023 aos velhotes
J. J. Duran
Arturo Jauretche, escritor, político, ensaísta e revisionista da história política argentina, a quem tive a graça de conhecer e desfrutar de sua particular atenção, em um dos muitos exílios que lhe impuseram por suas atitudes contestatórias do regime peronista, escreveu desde Montevidéu uma lauda que, entre outras verdades, dizia que "nós jornalistas escrevemos sempre para os outros e poucas vezes para nós mesmos".
Hoje, já com mais de 70 anos de exercício da profissão e ainda com o lombo marcado pelos castigos autoritários impostos pelos flageladores da liberdade, dirijo-me a todos os velhotes que, como náufragos desse oceano de amarguras chamado mundo, poucas vezes são lembrados como construtores de um passado que se perdeu nas páginas da História.
Fecha-se mais um ano de um tempo que somente os que no futuro vão escrever sobre o acontecido, longe das paixões do momento, poderão fazê-lo com as verdades hoje contidas e as mentiras transformadas em verdades incontestáveis.
Muitos dos jovens hoje militantes de algum campo ideológico que a polarização brasileira elegeu como passaporte para o futuro poderão fazer uma análise serena e desapaixonada da história de cada escolhido a ocupar a condição de autoridade máxima deste Brasil continente.
Aí sim vão escrever as reais biografias do capitão presidente e seu sucessor (e antecessor) torneiro mecânico, sem diferenças ideológicas, sem as "verdades indiscutíveis" contadas por cada um dos dois e sem o estúpido momento gasto em discursos bem elaborados, mas dissonantes da realidade, e chegarão à conclusão de que isso tudo não passou de um breve instante da história republicana brasileira.
Todos vamos envelhecer um dia, incluindo Bolsonaro e Lula, porém alguns parecem pouco se preocupar com o futuro. Falta solidariedade e sobram desigualdades a ponto de muitos considerarem os velhotes uma espécie de elementos descartáveis dos pressupostos orçamentários.
Papa Francisco, meu patrício e velho cordeiro de Deus, já disse que "é hora de deixar de lado a economia a serviço dos números para colocá-la a serviço dos homens".
Que 2023 seja um ano mais feliz para todos, em particular para os velhotes. (Foto: Pixabay)
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná