A crise do Natal
J. J. Duran
Difícil escrever sobre este Natal sem largas pinceladas de amargura, pois temos assistido nos quatro cantos da Terra ao aparecimento pluralizado de uma crise conceitual em decorência do envelhecimento dos sentimentos humanos.
Peregrinar mentalmente por muitos países espoliados pela elite do atraso é encontrar o desânimo, a pobreza que lastima corpos e almas, o absurdo desencontro produzido pelos discursos do separatismo social-ideológico e a nefasta polarização política.
Não sou fatalista, mas represento a velhice terminal de uma vida colocada a serviço da fraternidade, da pobreza e da verdade, que com orgulho poderei, junto com Ana Maria, mostrar aos nossos netos como exemplo de uma vida que jamais se curvou ou se vendeu frente ao poder e sua irracional intolerância.
No caso específico do Cone Sul indo-americano, não é nada alentador o futuro, pois a quebra quase fatal da ética na vida política e constitucional nos conduziu ao tempo do fracasso anunciado e irreversível.
Como as árvores quando suas raízes apodrecem, também a sociedade e a República apodrecem em suas estruturas senhoras quando o discurso provocativo e sem conteúdo humanístico inunda corações e apregoa um tempo de dores, sacrifícios e lamentações.
Há que se voltar ao tempo em que a política se enquadrava nos recintos políticos e os cristãos rezavam nas catedrais. Há que se devolver à criança e à juventude o amor, o respeito e a esperança de que no céu existem estrelas que vão guiar rumo à terra prometida todos os desamparados.
Temos que lutar com a fé dos missionários e a tenacidade dos idealistas para racionalizar o processo de decadência moral que, com suas taras maléficas, traz permanente ruína à sociedade ordeira.
Que os orgulhosos líderes da elite do atraso mergulhem verticalmente nas camadas profundas dos miseráveis, seus irmãos, para emergir não com sentimento esportivo de alívio e sim com as apreensões de quem compartilhou a vida com esses deserdados.
Permitam-me meus queridos leitores que, com meus quase 100 anos de idade, me debruce sobre o túmulo onde repousa Daniela Duran, uma brasileirinha que só viveu entre nós até aos 11 anos de idade e que desde o céu límpico, com sua inocência me envia uma mensagem pedindo que continue lutando por outras filhas do abandono, que esperam uma mão amiga que lhes dê o amor que outros negaram.
Feliz Natal a todas as Danielas do mundo que estão junto ao Bom Judeu.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná