Anarquismo doido
J. J. Duran
O anarquismo é uma corrente de pensamento ideológico tão antiga quanto a existência humana. Alguns pensadores e sociólogos renomados o definem como "doutrina política que busca o desaparecimento do Estado e das instituições representativas".
No século XX o anarquismo andou de mãos dadas com o comunismo até a queda do muro de Berlim, quando o neoliberalismo se apropriou de todas as ideologias políticas existentes.
Assim, até com o final do século existiu a luta pelo poder econômico global, que finalizou - teoricamente, não realmente - com o que Allan Greenspan batizou de "a ira das massas".
Nasceu nessa conceituação, na nossa indo-América, um grupo movido por um repúdio muito acentuado aos políticos, à corrupção e aos novos endinheirados saídos da classe média e frutos de uma sociedade dividida em estratos.
Mas essa tipologia sempre alertou contra a corrupção do Estado, deixando propositalmente de fora os corruptores do mercado.
Assim, travou-se no continente uma luta entre os defensores do Estado com deficiências que acentuaram as desigualdades sociais e o mercado "senhor absoluto de toda grandeza".
As classes dominantes desse mercado - várias e não uma única, ao contrário do que pretende impor a liturgia liberal - saíram do baú para converter o poder republicano no "poder do autoritarismo das minorias". Uns preferem o conforto do conceito, ainda que pobre, outros preferem o conforto do novo, ainda que desafiador.
As novas gerações, aquelas que virão logo após esse grande naufrágio da geração das efêmeras conquistas espaciais, onde toda grandeza do pensamento humano não teve destino feliz na sociedade polarizada entre ricos e pobres, ao chegar receberão um certificado de sacrifício e uma hipoteca deixada por nós.
A esperança naufraga longe do todo, incluídas as trágicas consequências de recitar a Bíblia dentro de recintos políticos, tornando a democracia um gesto fingido da elite do atraso e permitindo a eleição de líderes messiânicos incultos e representantes genuínos de um novo anarquismo doido.
Desperta indo-América, pois o pesadelo ainda não terminou. A fraternidade deve ser realidade e não quimera utópica de um grupo tresnoitado de pensadores inteligentes e livres de ataduras demenciais.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná