Por um presente sem ódio
J. J. Duran
Hoje em dia parece ter assumido valor especial a confluência do ódio, da violência primitiva em sua essência como impulso natural... do mal.
Mas não devemos voltar ao passado. Tentar isso já significa retroceder, pois a frustração acaba com os sonhos da esperança.
Nosso destino é mudar a História recente, fazendo dela uma revisão não revanchista e sem mexer nas cicatrizes deixadas em muitos corpos e almas.
Nosso passado foi conflituoso. Convivemos com reformadores, astrólogos, mitos, charlatães mitômanos, cínicos mentirosos...
Esse foi o legado que deixou a famosa geração dos anos 60 do século passado, que hoje reencontra nos netos a pureza e a alegria perdidas.
Esse passado levou ao colapso econômico de muitas repúblicas e deixou enormes contingentes de novos pobres e desempregados.
Esse passado nos trouxe ao presente traumático de hoje, quando a mentira busca ser a verdade indiscutível, o ódio, a calúnia e as ameaças violentas levam à deterioração da imagem do nosso continente como um todo.
Esses fatos colocam na ribalta da vida o canibalismo político-ideológico, com sua sombra tenebrosa de polarização e fim da fraternidade.
Por irônico que possa parecer, a democracia não humanizou a política, ao contrário, a tornou uma triste realidade.
Aqueles que acreditaram na liberdade do pensamento, não da injúria, da desinformação e da agressiva menção do poder como fator repressivo, terminaram longe das suas pátrias, na solidão do exílio.
A elite do atraso impôs à indo-América regras de um jogo político que deturpou a liberdade do pensamento e da informação.
É necessário trabalhar para construir em algumas sociedades e reconstruir em outras o sentimento da fraternidade e do diálogo respeitoso, tirando do vocabulário coloquial o termo "inimigo".
Não nos espelhemos no passado. Nos espelhemos no futuro, que já chegou.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná