Uma história para gente grande
Renato Sant’Ana
Para quem estiver sentindo o assédio das forças negativas do universo e caindo no desânimo, vou contar uma história que me acompanha há muitos anos - nem me lembro como a conheci.
Alguém deve tê-la inventado. Mas até pode ser real. Não importa. É uma história de coragem, criatividade, ousadia, esperança, determinação e amor à vida. Ou, se preferirem, uma história de resiliência.
Dedico-a em especial a quem já tem cabelos grisalhos e que, por efeito do fator ideológico que joga uns contra outros, está entristecido e temeroso em relação ao que possa vir a ocorrer em nosso País.
Aconteceu em tempos idos...
Um rico e influente senhor feudal cometeu um crime. E o seu suserano, a quem cabia julgar o fato, mas não queria punir o criminoso, armou uma farsa para condenar e executar um pobre camponês, dar satisfação aos que clamavam por justiça e, no fim, se afirmar como senhor da lei.
Com fingida expressão de bondade, ele disse que Nosso Senhor decidiria se haveria ou não um enforcamento. E apresentou ao camponês uma bandeja com dois papeizinhos, anunciando: "Num diz culpado; noutro, inocente. Escolha um dos dois e que o bom Deus tenha-lhe misericórdia".
O camponês sabia que era uma farsa. E que em ambos papeizinhos estava escrito "culpado". E não havia a quem recorrer. O que fez? Desesperou-se a maldizer a própria sorte? Capitulou? Desistiu da vida?
Oh, não! Ele apanhou um dos dois e... engoliu-o! De modo que só restou a contraprova de sua escolha, em que se lia: "culpado". Ele se salvou!
A mensagem é simples e mobilizadora: "jamais desistir por desânimo!"
Como ignorá-lo? De um lado, há quem deseja que sejamos dominados pela descrença e que desistamos. De outro e em grande número, há aqueles que persistem no bem e que, mesmo nas situações mais simples, ofertam o melhor de si para mudar positivamente nem que seja só o seu entorno.
De que lado queremos estar? É a pergunta a ser feita quando duvidamos da validade de sair de casa para votar nestas eleições.
Nossos grisalhos e cabeças brancas precisam saber que, enquanto gente adulta e com experiência fica em casa desanimada, a moçada que sofreu lavagem cerebral em sala de aula e abraçou as bandeiras mais esdrúxulas vai votar em quem, há décadas, faz política jogando uns contra outros.
A historinha acima deve ser mera ficção. Contudo, nos dá um vislumbre do que é, verdadeiramente, honrar a vida.
Mas não devemos esperar situações heroicas para agir: o que importa é que mesmo os gestos mais singelos sejam praticados com generosidade.
Tenhamos critérios adultos e, saindo de casa bem cedo no domingo, votemos pensando no país que deixaremos para os que virão depois de nós.
Renato Sant’Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@outlook.com