Por um olhar humanitário
J. J. Duran
Neste tempo eleitoral, quando as vozes dos salvadores da Pátria se elevam entoando hinos de autopurificação, é oportuno sugerir aos "iluminados" e seus obedientes seguidores, independente da vertente ideológica de cada um dos lados contendores, que olhem para essa camada de irmãos flagelados pelo desemprego, pela miséria e pela fome, vítimas silenciosas das desigualdades brutais que ainda castigam a muitos.
No caso brasileiro, os ufanos insistem em dizer que foi superado por obra da política liberal do ex-banqueiro Paulo Guedes e não se dão conta que ele baixou 12 milhões para 8 milhões, mas continua a existir, e que há outros 33 milhões de trabalhadores na informalidade.
A qualidade de vida é aviltada desde longo tempo atrás, não só no decorrer do governo atual, fazendo com que cresçam os índices de empobrecimento normalmente ignorados nas estatísticas oficiais, bem como da combalida oposição. Enquanto isso, segue crescente o número de crianças e jovens que não conhecem a fraternidade pregada biblicamente, mas não exercitada na prática.
Existem vozes solitárias que ousam gritar e denunciar esse quadro, mas elas são sistematicamente abafadas, enquanto crianças e jovens convivem em um cenário com direitos postergados e futuro incerto.
O Estado onipotente, autoritário, sem programa de governo e com arremedos de efêmera fraternidade pentecostal, e a oposição desnorteada e silenciosa quanto ao que não é cumprido, desenham a orfandade republicana que transita pelos sodalícios parlamentares.
As campanhas desenvolvidas antes e durante o tempo eleitoral são mostras inequívocas da incompetência e do fracasso de sucessivas fórmulas reformistas.
A elite do atraso segue colocando óbices para que se encontre a solução para o drama das desigualdades, cuja busca, mais que falsas promessas e menções bíblicas, requer amor e respeito a todos aqueles irmãos que o abandono e a omissão do famigerado Estado transformaram em miseráveis sociais.
Não é de hoje que um rio caudaloso de desigualdades gritantes sacode a alma da República. Vem de muitas jornadas cívicas atrás essa afronta à democracia proclamada.
A hora é para os fortes, aqueles que não perdem a fé na construção de uma sociedade na qual a justiça social seja um direito e não uma esmola.
Mas, pelo que se tem visto, dias ainda mais tensos virão até o eleitor conseguir voltar a despositar na urna a esperança de ser reconhecido como cidadão e peça vital da democracia e da República.
J. J. Duran é jornalista, membro da Academia Cascavelense de Letras e Cidadão Honorário do Paraná